Durante mais de duas décadas, Pedro se esforçou para sair desse silêncio e hoje, aos 32 anos, depois de ter cursado Arquitetura e Design de Programação, quer se formar em Jornalismo e investir num sonho. Engajado na conscientização de portadores de deficiência física para a necessidade de maior integração e troca de conhecimento, ele pretende articular, como objetivo acadêmico, um projeto que ofereça mais suporte e informação à comunidade de deficientes físicos.
Segundo Pedro, as diferenças entre a realidade brasileira e as de outros países são colossais. Países como os Estados Unidos possuem infraestrutura mais acessível. “Muitos policiais americanos, por exemplo, são treinados para se comunicarem com surdos-mudos, orientar cegos, atender a idosos, o que não é comum aqui no Brasil”, afirma.
Pedro perdeu 100% da audição quando tinha apenas 8 meses, consequência de um tratamento contra otite. A surdez precoce foi descoberta durante a Copa do Mundo de 1978. “Meus pais perceberam que eu não reagia aos fogos de artifício”, lembra.
Tão logo descoberto o problema auditivo, a família de Pedro tinha duas opções: ensinar-lhe a linguagem dos sinais ou submetê-lo a um tratamento intensivo de desenvolvimento da fala. O tratamento durou 23 anos e hoje Pedro consegue falar, com alguma dificuldade, frases inteiras, e compreende o que as pessoas falam com a ajuda de um aparelho auditivo e da leitura labial.
O projeto de Pedro ainda está em processo de amadurecimento, mas alguns objetivos já estão bem definidos. Segundo ele, é preciso mais sinergia, interação e informação para lutar pela preservação dos direitos à acessibilidade e inclusão.
– Minha proposta é adquirir conhecimentos de filosofia, sociologia e antropologia para colocar esses objetivos em prática e colaborar com outros interessados. Aí entra a Comunicação Social, com o propósito de informar o público – explica.
Mesmo enfrentando problemas de ordem prática, como a impossibilidade de falar ao telefone ou de dialogar com várias pessoas simultaneamente, Pedro consegue conciliar a vida afetiva e a rotina de trabalho e estudo. Ele trabalha por conta própria, ocupando-se, geralmente, com projetos de design de interiores de escritório. Ainda assim, arranja tempo para viagens, como a que fez por países andinos em 2008, quando ficou durante duas semanas no deserto de Atacama, no Chile.
– São as pessoas que colocam na cabeça os seus limites. Todos nós temos um potencial. É só uma questão de adaptação – garante.