Saindo do silêncio
02/06/2010 15:35
João Lima / Foto: Maria de la Gala

Aluno supera problema auditivo e reinvidica mais inclusão para deficientes

Pedro cursa o 2º período de Comunicação
Quem quiser conversar com o estudante de Comunicação Social Pedro Augusto Bentes, precisa olhá-lo de frente. Sem enxergar os lábios de quem fala, Pedro, portador de deficiência auditiva bilateral, não consegue captar, com precisão, as palavras. "Vivo num silêncio absoluto", declara, descrevendo como é ficar sem seu aparelho auditivo.

 

Durante mais de duas décadas, Pedro se esforçou para sair desse silêncio e hoje, aos 32 anos, depois de ter cursado Arquitetura e Design de Programação, quer se formar em Jornalismo e investir num sonho. Engajado na conscientização de portadores de deficiência física para a necessidade de maior integração e troca de conhecimento, ele pretende articular, como objetivo acadêmico, um projeto que ofereça mais suporte e informação à comunidade de deficientes físicos.

 

Segundo Pedro, as diferenças entre a realidade brasileira e as de outros países são colossais. Países como os Estados Unidos possuem infraestrutura mais acessível. “Muitos policiais americanos, por exemplo, são treinados para se comunicarem com surdos-mudos, orientar cegos, atender a idosos, o que não é comum aqui no Brasil”, afirma.

 

Pedro perdeu 100% da audição quando tinha apenas 8 meses, consequência de um tratamento contra otite. A surdez precoce foi descoberta durante a Copa do Mundo de 1978. “Meus pais perceberam que eu não reagia aos fogos de artifício”, lembra.

 

Tão logo descoberto o problema auditivo, a família de Pedro tinha duas opções: ensinar-lhe a linguagem dos sinais ou submetê-lo a um tratamento intensivo de desenvolvimento da fala. O tratamento durou 23 anos e hoje Pedro consegue falar, com alguma dificuldade, frases inteiras, e compreende o que as pessoas falam com a ajuda de um aparelho auditivo e da leitura labial.

 

O projeto de Pedro ainda está em processo de amadurecimento, mas alguns objetivos já estão bem definidos. Segundo ele, é preciso mais sinergia, interação e informação para lutar pela preservação dos direitos à acessibilidade e inclusão.

 

– Minha proposta é adquirir conhecimentos de filosofia, sociologia e antropologia para colocar esses objetivos em prática e colaborar com outros interessados. Aí entra a Comunicação Social, com o propósito de informar o público – explica.

 

Mesmo enfrentando problemas de ordem prática, como a impossibilidade de falar ao telefone ou de dialogar com várias pessoas simultaneamente, Pedro consegue conciliar a vida afetiva e a rotina de trabalho e estudo. Ele trabalha por conta própria, ocupando-se, geralmente, com projetos de design de interiores de escritório. Ainda assim, arranja tempo para viagens, como a que fez por países andinos em 2008, quando ficou durante duas semanas no deserto de Atacama, no Chile.

 

– São as pessoas que colocam na cabeça os seus limites. Todos nós temos um potencial. É só uma questão de adaptação – garante.

 

 

Edição 229

 

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