Reduzir volume de lixo é meta
01/07/2010 16:48
Claudia Bozza / Fotos: Maria de la Gala

A tese de mestrado Diagnóstico dos Resíduos Sólidos da PUC-Rio,de Patrícia Guedes, levantou uma importante questão ambiental:o que fazer com lixo produzido na PUC? Esse levantamento foi importante para dimensionar o problema e gerar um debate sobre o tema. 

A estrutura da Pontícia Universidade Católica poderia ser comparada à de um bairro: ambulatório, restaurantes, bares, igreja, bosque, estacionamento, etc. Pela PUC, passam diariamente cerca de 18.700 pessoas, mais do que bairros como Saúde, que tem 2.186 habitantes; Glória, 10.098; Santo Cristo, 9.618; Caju, 17.689. Por trás dessa estrutura, há, entretanto, uma produção de lixo que pode ser comparada, também, à produção de um bairro. Dados da Comlurb apontam que, por dia, em média, uma pessoa gera em torno de 1,5kg de lixo. Enquanto isso, a geração per capita de lixo na PUC é de, aproximadamente, 0,297kg de lixo por dia, ou seja, 20% da produção diária de uma pessoa é descartada na PUC.

 

 

A compactadora da PUC, localizada no estacionamento,
perto do Ginásio, é o destino de todo lixo produzido na Universidade.
Na foto, funcionário da Sodexho joga fora o lixo gerado pelo Bandejão

 

Esse problema foi levantado por Patrícia Caroline Guedes Gomes, em sua tese de mestrado Diagnóstico dos Resíduos Sólidos da PUC-Rio, apresentada ao Curso de Especialização em Engenharia Urbana e Ambiental, disponível no Departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio. Patrícia ressaltou, ainda, problemas maiores, como a ausência de uma campanha de conscientização de alunos e funcionários para a coleta seletiva, a falta de um equipamento urbano, ou seja, de uma estrutura para a prática da coleta e a falta de um plano de gerenciamento dos resíduos sólidos para o campus.

 

– É preciso que haja uma educação ambiental seguida de um projeto de equipamento urbano. Não adianta nada o aluno jogar a latinha na lixeira correspondente, se, no final, todo o lixo da PUC vai parar em uma compactadora, explicou Patrícia. Para ela, se houvessem os equipamentos instalados, as pessoas iriam se conscientizar e seria também uma espécie de pressão para que se fizesse o certo.

 

A pesquisa verificou que 43% da composição física dos resíduos sólidos da PUC são compostos de lixo orgânico. Alimentos, galhos e folhas de árvore são exemplos desse material, sendo que a maior parte é decorrente das sobras de refeições dos restaurantes e lanchonetes. Somados a esses 43% estão a percentagem de papel, 34%, e papelão, 3%, com o que se chega, ao todo, a 80% do lixo total da PUC. Os outros 20% são formados de alumínio, 1% de plástico fino, 7% de plástico duro, 8% de outros materiais.

 

– Percebo que muitas pessoas pegam além do que conseguem comer e acabam jogando a comida fora. Falta a conscientização de que no nosso país muita gente passa fome, enfatizou Maria Antonia, administradora do Bandejão.

 

Esse desperdício também foi percebido por Patrícia ao fazer a pesagem do lixo. Ela notou que havia uma grande quantidade de carne descartada, e funcionários que ajudavam na pesagem reclamaram que muita carne é jogada fora no Bandejão.

 

O lixo orgânico produzido na Universidade é uma das principais preocupações. Uma das medidas sugeridas para o reaproveitamento desse lixo é a compostagem, para transformar esses restos orgânicos em adubo, tanto para a vegetação no campus da PUC, quanto para a utilização nas encostas da Universidade. O problema, como explica Patrícia, é que essa medida poderia causar mau cheiro e o aparecimento de animais inconvenientes nas áreas adubadas.

 

Com relação à reciclagem do papel, alguns Departamentos direcionam os papéis utilizados para a reciclagem, porém o ato ainda não abrange toda a Universidade e é praticado somente por alguns setores. Outra questão ainda é levantada. Como afirma Patrícia, muito papel com potencial para ser reciclado, algumas vezes é recolhido junto com papel úmido, como o papel higiênico, inviabilizando o reaproveitamento.

 

– Os funcionários deveriam ser orientados sobre como recolher o lixo. Deveriam ser instruídos a gastar menos material, como, por exemplo, o uso consciente de sacos plásticos. Muitas vezes eles fecham sacos quase vazios e pegam outros, assinala Patrícia.

 

O baixo índice de materiais de alumínio é um dado curioso. O fato é que muitas latinhas são recolhidas informalmente dentro do Campus. Rogério Marangone, dono do restaurante Gourmet, por exemplo, afirma que faz a reciclagem de alumínio por conta própria.

 

A tese defendida por Patrícia Guedes foi importante, porque, até então, não havia um estudo sobre o lixo da PUC. “Descobrimos que temos um grande problema a ser solucionado e estamos, aos poucos, trabalhando para resolver essa questão. Nosso intuito é tornar a PUC uma universidade sustentável”, afirmou o professor Fernando Walcacer, Vice-Coordenador do Núcleo Interdiciplinar de Meio Ambiente (Nima).

 

Com essa finalidade, o Nima tem um projeto para tornar sustentável o Instituto Gênesis, que seria um protótipo para um objetivo maior, que é o de transformar a PUC em uma universidade sustentável. A escolha do Instituto Gênesis como projeto piloto teve como principais razões o seu relativo isolamento e a unicidade do instituto.

 

Tornar a PUC uma universidade sustentável é um desejo antigo do Reitor, padre Jesus Hortal, que, ao voltar de um colóquio sobre as mudanças climáticas, na Universidade de Nova York, em 2007, pediu que setores universitários envolvidos com a questão ecológica elaborassem um plano que expressasse a responsabilidade social e ambiental da PUC. No prefácio da Agenda Ambiental da PUC-Rio, ele colocou em palavras a necessidade de mudança pela qual a universidade deveria passar:

 

– Todos devemos colaborar, para que esta Agenda não seja um documento a mais a constar nos nossos arquivos, mas se constitua num impulso autêntico para construir uma Universidade social e ambientalmente sustentável.

 

 

Edição 230

 

 

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