Segundo o psiquiatra Eduardo Costa Barros,
mídia ajuda a romper preconceitos
Décio Luiz dos Reis, 57 anos, publicitário, conversa tranquilamente. Em um determinado momento, entre uma frase e outra, dá três tossidas. Se isso acontecesse de madrugada, sem ninguém por perto, ele diz que teria começado a suar nas mãos, ficar com a testa fria e com o coração batendo aceleradamente. São sintomas do transtorno do pânico, que para Décio – assim como para a maioria dos pacientes – se somam a uma sensação de eminência de morte. De acordo com a Associação de Psiquiatria Americana, a doença atinge de um a quatro por cento da população mundial – com maior risco para pessoas com mais de 25 anos, sendo as mulheres de duas a três vezes mais afetadas do que os homens.
Este será um dos temas que estarão na pauta da mesa-redonda no Dia Mundial da Saúde Mental, 21 de outubro, das 11h às 13h, na Sala 102-K – parte do ciclo de palestras realizado, desde o fim do mês passado, pelo Centro de Ciências Biológicas e Medicina (CCBM).
Décio tem asma. Foi depois de três anos de tratamento – sem progresso – que começou a ter os primeiros sintomas do transtorno. Não titubeou em procurar auxílio psiquiátrico. Conseguiu ter os sintomas controlados. Mas eles retornaram depois que, sem consultar o médico, abandonou os remédios, no ano passado. “Tem vezes que levanto à noite e vou ao banheiro e lembro que foi da mesma forma que passei mal há uns 7 anos”, relata, referindo-se ao início de um ataque de pânico.
Ele diz conseguir manter uma vida normal. Morador de Armação de Búzios, na Região dos Lagos, afirma não ter medo de estrada. E nem de avião. Mas admite que, às vezes, deixa de fazer coisas por ter medo de passar mal e não ter ninguém para socorrê-lo. Esse medo é conhecido como agorafobia, angústia psiquiátrica que acompanha 80% dos casos de transtorno do pânico. “A pessoa pode sentir medo de ir ao Maracanã, por exemplo. Pois se for lá e passar mal, acha que ninguém vai ajudá-la”, ilustra o coordenador de especialização de psiquiatria da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio, Eduardo Costa Barros, um dos especialistas que farão parte da mesa-redonda.
O diagnóstico da doença – que alia medicamento à terapia – é consideravelmente novo. Ela começou a ser estudada com precisão científica apenas na década de 80, explica Eduardo da Costa Barros. Antes, ganhava outros nomes, com características não bem definidas. No início do século passado, de quando datam os primeiros registros, foi designada como Síndrome de Da Costa, nome herdado do médico que observou os sintomas da doença em combatentes que acabavam de sair de campo de batalha, na guerra civil americana. Ainda hoje, a doença é chamada, equivocadamente, de síndrome.
– Síndrome, na medicina, é quando há crises e sintomas. No transtorno, essas crises e sintomas limitam a vida social e pessoal do paciente – explica Barros.
Além da precisão médica, avançou também a consciência da população. Segundo o psiquiatra, os preconceitos têm sido rompidos.
– Mesmo em casos graves, o tratamento faz com que a maioria das pessoas volte a ter atividades regulares. A terapia ajuda que as dificuldades e o medo sejam superados. Por isso, é importante romper a barreira do preconceito.
Edição 235