A situação é comum na vida da maioria dos estudantes: ao fim do período letivo, eles fazem uma pesquisa informal entre os amigos veteranos para saber que professores escolher para o período seguinte. Informações básicas são levantadas para que o próximo semestre seja tranquilo e resulte, de preferência, em aprendizado e boas notas.
Foi pensando nesse momento de escolha que três universitários criaram um site que, em duas semanas, arregimentou 25 mil cadastros. O Carrasco Mamata foi criado para responder, de forma bem-humorada, uma dúvida básica dos alunos: afinal, aquele professor é chato ou é legal?
O mecanismo é simples: ao entrar na página, o interessado digita o nome do professor desejado e vê a sua porcentagem “carrasco” e sua porcentagem “mamata”, segundo votos de outros estudantes. E é nessa mesma página em que a votação é feita.
Os alunos da PUC-Rio Igor Blumberg, de Engenharia de Computação, e Felipe Frajhof, de Engenharia de Controle e Automação, juntamente com Rafael Dahis, que faz Engenharia de Computação e Informação na UFRJ, aproveitaram a época de começo de período para botar o site no ar, após apenas um mês de desenvolvimento. As ambições são arrojadas: eles pretendem ter o maior e melhor (“e todos outros adjetivos legais”, segundo Blumberg) site de avaliações de professores do Brasil.
Atualmente, cerca de 28 mil professores constam no cadastro do Carrasco Mamata. Para chegar a esse número, eles usaram a base de dados de algumas universidades, caso da PUC-Rio, ou pediram para que os próprios alunos registrassem seus professores. A adesão foi imediata, sendo que hoje o maior número de votos vem da Universidade Federal Fluminense (UFF), onde todos os nomes foram cadastrados pelos estudantes. A comunidade PUC-Rio, curiosamente, não figura na lista das que mais votam.
O professor de Técnicas de Comunicação Felipe Gomberg, que foi classificado como 83% “carrasco” pelos seis alunos que votaram, considera que as avaliações são sempre importantes. Mas fez críticas ao método do site.
– É um conceito que depende de quem analisa. Eu acho bobo e insuficiente, porém válido. No site, não existem outros parâmetros e critérios, fica polarizado. Afinal, o que é ser carrasco? O que é ser mamata? – questionou.
Os desenvolvedores admitem que apenas o binômio carrasco-mamata não responde a todas as questões analisadas pelos estudantes ao fazerem as escolhas dos professores. Por conta disso, afirmam que pretendem acrescentar, em breve, novas ferramentas ao site para que os resultados sejam mais detalhados. Contudo, sem que a avaliação fique chata ou complexa.
– Não existe uma definição correta. É um vocabulário do dia a dia dos estudantes, principalmente dos cariocas. Cada um tem sua classificação sobre o que é ser carrasco ou ser mamata. Um dos intuitos do site é esse, ser um conceito aberto, com a interpretação de cada um – avalia Frajhof.
Nada mais óbvio que, em 2011, o site tenha usado as mídias sociais como mola propulsora. Principalmente o Facebook, que é a principal via de divulgação. O boca a boca virtual foi intenso, e ultrapassou as fronteiras do Rio de Janeiro. Prova disso é que, atualmente, os paulistas formam ligeira maioria no site.
A mídia espontânea gerada foi imensa e inesperada. Em pouco mais de duas semanas, as versões online de jornais como a Folha de S. Paulo e O Globo procuraram Blumberg, Frajhof e Dahis para entrevistas. O site recebeu também um boom de visitas quando foi comentado pelo programa Estúdio i, da Globo News.
Apesar da badalação, os estudantes não pretendem lucrar financeiramente por meio de publicidade, pelo menos nesse momento. Até segunda ordem, o Carrasco Mamata existe apenas para auxiliar os estudantes. Os desenvolvedores o encaram como um projeto paralelo, dando sequencia aos estudos e aos estágios.
– Se isso der certo e pudermos trabalhar nisso, vai ser ótimo. Mas não é a nossa intenção. A gente chegou a fazer uma matéria de empreendedorismo e sempre quis lançar algo juntos antes de a faculdade terminar – conta Blumberg.
Em tom de brincadeira, quando perguntado se eles se consideram os Marks Zuckerbergs cariocas, em referência ao bilionário criador do Facebook que inspirou o filme A Rede Social (2010), Blumberg tem a resposta na ponta da língua:
– Em uma semana, tivemos um número de acessos maior do que o que o próprio Facebook teve na semana de seu lançamento. A única diferença é que o Facebook não tinha o Facebook para usar como meio de divulgação como nós tivemos – diz, rindo. – A nossa ideia não é imitar ou seguir os passos dele. Todos os sites crescem assim. Sabemos que as coisas não funcionam tão facilmente.
Novos Zuckerbergs ou não, os cariocas deram uma nova opção para classificar os professores. A PUC-Rio também oferece um sistema de avaliação, mais detalhado e completo. Não faltam fontes para que os alunos reúnam o máximo de informações para escolher o professor para os próximos semestres.
Edição 245