A idéia da construção, para celebrar o centenário da independência brasileira, em 1922, surgiu no Círculo Católico. Foi realizada uma concorrência e a proposta de Silva Costa saiu vencedora. No entanto, o plano original, que tinha o Cristo segurando uma cruz na mão esquerda e um globo na mão direita, foi modificado para o dos braços abertos.
Em 1923, o Cardeal Leme organizou a Semana do Monumento – no país inteiro, as paróquias arrecadavam doações para a construção. Nas ruas do Rio, desfilavam pessoas com lençóis abertos e muitos transeuntes jogavam dinheiro dentro deles. "Nós batíamos de porta em porta pedindo doações", lembra João Havelange, Presidente de Honra da FIFA, escoteiro na época, em depoimento ao documentário de Bel Noronha, Christo Redemptor, em cartaz na exposição homônima, que fica no ArteSesc até 21 de janeiro. Sem a iniciativa, que obteve o equivalente a R$ 6 milhões, a obra seria inviável.
No ano seguinte, Silva Costa foi à Europa, com os estudos realizados e uma maquete, à procura de um escultor. Passou por Itália e Alemanha, mas foi na França que conheceu Paul Landowski, artista escolhido pelo brasileiro. No ateliê em Paris, o escultor concebeu uma maquete de quatro metros de altura, enquanto Silva Costa e Albert Caquot, engenheiro francês, planejavam os cálculos da estrutura interna do Cristo, feita em metal e concreto armado. De Paris vieram apenas os moldes, em gesso, da cabeça e das mãos do monumento, que foram cobertos pelo concreto armado, aqui no Brasil.
Portanto, dois franceses fizeram parte da equipe do projeto, financiado integralmente pela população brasileira. Outra questão importante a ressaltar: Silva Costa esteve ao lado dos franceses o tempo todo – morou na Europa de 1924 a 1927 –, realizando um trabalho coletivo a partir de suas concepções, consideradas visionárias por Landowski, que se referiu ao engenheiro e arquiteto, em seu diário, como "esse brasileiro louco".
O período de construção foi de 1926 a 1931, e cai mais um mito sobre a história do Cristo: ele foi moldado in loco, ou seja, no próprio Corcovado. As únicas partes que subiram de trenzinho prontas, porém em partes, foram as mãos e a cabeça – o resto do corpo foi inteiramente constituído no local. O revestimento é de pedra-sabão, cortada em triângulos de três centímetros cada lado, que eram colados em tecido pelas senhoras da sociedade, na Paróquia da Glória. De lá, seguiam para o Cristo, onde eram fixados sobre o corpo.
A história do monumento tem sido contada erroneamente. Muitos livros didáticos dizem que ele é um presente da França, confundindo ainda mais a maioria dos brasileiros, que realmente acredita nessa versão. "Meu bisavô passou dez anos de sua vida nesse trabalho. Essa história pertence a todos nós, brasileiros", declara Bel Noronha. Indiferente às distorções históricas, o Cristo permanece de braços abertos sobre a cidade, tão confusa, tão diferente de 75 anos atrás, mas como sempre fascinante.
Jornal da PUC - Edição 179