Era Jango revista em artigos
05/12/2006 17:55
Clarice Tenório

O livro O Brasil de João Goulart: um projeto de nação, das editoras PUC-Rio e Contraponto, reúne textos de difícil acesso, publicados por representantes do governo, entre 1958 e 68. A obra, com lançamento no dia 6 de dezembro, na Uerj, é organizada pelos professores Oswaldo Munteal, da PUC, Facha e Uerj, Jacqueline Ventapane e Adriano de Feixo, ambos da Uerj, e tem textos de Celso Furtado, Theotônio dos Santos e Darcy Ribeiro, entre outros.

Sentados à mesa: Miguel Arraes, João Goulart e Darcy Ribeiro.
De pé ao lado de João Goulart, Celso Furtado. (Arquivo Nacional)

Um aluno de pré-vestibular perguntou ao professor Oswaldo Munteal se o presidente João Goulart de fato saiu do Brasil, em 1964, para tirar férias, como mostrara a minissérie JK, da TV Globo. Em resposta ao desconhecimento da população e, ainda mais, à "tentativa de não divulgar o golpe que Jango sofreu", e aproveitando os 30 anos de morte do presidente que teve seu governo impedido pela ditadura militar, será lançado o livro O Brasil de João Goulart: um projeto de nação. A obra é resultado da parceria entre as editoras PUC-Rio e Contraponto e reúne textos de difícil acesso, publicados por representantes do governo, entre 1958 e 68.

O Seminário João Goulart: 30 anos de Silêncio, realizado entre os dias 6 e 8 de dezembro na Uerj, será o palco para o lançamento da obra, que ocorrerá na Capela Ecumênica, às 18h do dia 6, exatamente três décadas após a morte de Jango. O livro é organizado pelos professores Oswaldo Munteal, da PUC, Facha e Uerj, Jacqueline Ventapane e Adriano de Feixo, ambos da Uerj, e tem textos de Celso Furtado, Theotônio dos Santos e Darcy Ribeiro, entre outros.

Munteal explica que Jango só é lembrado pelo populismo, ou como alguém que tomou decisões erradas que levaram ao golpe militar. Ele ressalta que, muito pelo contrário, o presidente contava com uma equipe boa, que "pensava um projeto de país forte, que se sustentava, longe de ser leviano e aventureiro, como muitos insistem em argumentar."

Segundo ele, o projeto de país tinha quatro pilares: "Educação como um bem inalienável e universal; renegociação da dívida externa, dentro do que o país podia pagar, proposta do ministro Santiago Dantas; aproximação do Estado com o movimento sindical, o lhe rendeu o apelido de presidente sindicalista; e, o que acho mais importante, não o populismo de Jango, mas a sua condição de líder, de identificação com o povo."

– Os textos reunidos no livro servem para discutir uma questão mais complexa, que teve Jango como epicentro: a pressão dos militares e dos Estados Unidos sobre um projeto de reforma política e nacional, explica Munteal, que também acentua a importância de restaurar o debate nas universidades.

A filha de Jango, Denize Goulart, no texto da orelha de O Brasil de João Goulart: um projeto de nação, reclama do tratamento dado até então para a história de seu pai. Ela conta que os problemas começaram quando ele recebeu das mãos de Getúlio, horas antes de se suicidar, a sua carta testamento. Denize também lamentou a falta de oportunidade de Goulart para retomar o espaço político: "Vejo muitas rasuras em sua biografia, feitas, seguramente, pelos seus adversários políticos, e considero um dever restabelecer para a história toda a verdade", afirma, no texto.

 

Jornal da PUC - Edição 180