A tradução de um best-seller pode ser um ponto marcante no currículo. Ao mesmo tempo, pode ser motivo de dor de cabeça e um fardo a ser carregado. A professora da USP Lenita Rímoli Esteves, uma das tradutoras da versão brasileira da trilogia O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien, lançada em 1994, esteve na PUC-Rio, no dia 22 de novembro, para falar sobre tradução, os direitos envolvidos e a ética na profissão.
Ela contou que a complexidade do universo das obras de Tolkien foi a maior dificuldade encontrada pela equipe. Lenita traduziu o texto em prosa e Almiro Pisetta, os textos em poesia, amparados por Ronald Kyrmse, especialista nos idiomas ficcionais de Tolkien. A sempre polêmica tradução de nomes de personagens e de lugares foi feita de acordo com as regras estabelecidas pelo próprio autor.
A tradução dos três volumes, concluída em um ano e dois meses, não ficou livre, porém, das críticas. E não foram poucas, vindas principalmente de quem conheceu a obra na língua inglesa.
– Geralmente, as pessoas simpatizam mais com a versão que experimentam primeiro. Por isso acho que quem leu o livro no idioma original foi quem mais criticou e estranhou a adaptação dos nomes ao português, que, de acordo com Tolkien, é necessária, justificou Lenita.
Um site de fãs foi um pouco mais longe: criou um fórum, a "força-tarefa de revisão", onde os fanáticos pela história procuraram erros e omissões do texto original, para exigir o lançamento de uma revisão. Lenita rebateu as críticas dizendo ser impossível uma tradução perfeita, especialmente em livros ricos em detalhes, como esses.
Elogiada por uns e criticada por outros, a tradução de Lenita e Almiro foi utilizada nos filmes lançados pela Warner. Porém, sem o reconhecimento dos direitos autorais. Eles entraram na justiça, a Warner reconheceu o erro, e foi feito um acordo de concessão de direito de utilização dos nomes e termos traduzidos. Os tradutores também compraram briga com a editora Martins Fontes, que pagou somente ao contratá-los, em 1990, sem dar mais nada após a conclusão do trabalho ou após o sucesso nas vendas. O processo está em andamento.
– Nomes e poesias são os pilares da argumentação do livro. É reconhecido como obra artística; é criação; portanto passível de direitos autorais, acentua Lenita.
A participação dos tradutores nos lucros obtidos não é uma prática comum no Brasil, são poucas as editoras que o fazem. Lenita acredita que um resultado positivo do processo movido contra a Martins Fontes pode colocar os profissionais da área numa posição mais favorável para negociar com as editoras.
Jornal da PUC - Edição 180