A morte da modelo Ana Carolina Reston Macan por anorexia nervosa, no dia 14 de novembro, retrata a distorção da imagem da beleza na contemporaneidade. Ana Carolina faleceu pesando apenas 40 quilos, aos 21 anos. O caso da modelo mostra uma realidade que vem sendo estudada, há mais de dez anos, por Joana de Vilhena Novaes, Coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social da PUC. As centenas de entrevistas com mulheres de 15 a 70 anos resultaram no livro O intolerável peso da feiúra (Editora PUC-Rio), lançado em novembro no Armazém Digital, no Leblon.
No livro, a doutora em Psicologia Clínica faz uma equivalência entre feiúra e gordura, associadas entre si pela maioria das mulheres.
– O livro é uma radiografia comportamental da atualidade e se pretende um libelo contra o preconceito. Ao dizer que a gordura é representação da feiúra na contemporaneidade, estou sinalizando que se tem um preconceito socialmente validado, assinala Joana. Segundo ela, a gordura é associada à falta de caráter, e, para a sociedade, se aceitar como gordo é se assumir como preguiçoso, desleixado e relaxado.
A obra é um apanhado do tema estudado por Joana desde a graduação. No início, ela estudou o efeito das academias de ginástica na psicologia das freqüentadoras. Logo depois, a psicóloga estudou as clínicas plásticas privadas e, em seguida, as dos hospitais públicos. "Percebi que as filas nos hospitais eram enormes para as cirurgias estéticas e não reparadoras, e as mais usadas eram as de lipoaspiração", ressalta. Para Joana, o comportamento atual das mulheres é um reflexo da sociedade de consumo e do espetáculo, em que, mesmo com um discurso voltado para a questão da saúde, as pessoas estão dispostas a pagar qualquer preço para ter o corpo que desejam.
Segundo Joana, as mudanças no corpo retratam a posição do sujeito na sociedade.
– Quando muda o corpo, muda o seu estar no mundo. O corpo é quase um monstro de Frankenstein: vai sendo montado. Hoje, você é o que você aparenta ser. Isso explica porque mulheres gordas e consideradas feias são excluídas do mercado de trabalho. Se a avaliação da capacidade é avaliada pelo físico, então o mercado considera a falta de gerenciamento do próprio corpo como um preâmbulo da falta de organização na vida profissional. O corpo não apresenta, e sim representa o sujeito, enfatiza a psicóloga.
Jornal da PUC - Edição 180