Para discutir os resultados do Censo 2010, divulgados há três meses, a Cátedra Carlo Maria Martini e o Departamento de Teologia realizaram o seminário O Censo e as Religiões no Brasil, nos dias 10 e 11 de setembro, que dará origem a um livro.
Os estudiosos da religião presentes no Auditório Padre Anchieta afirmaram que o Brasil apresenta uma pluralidade religiosa, porém, ressaltaram que quase toda a população diz pertencer a somente três grupos: católicos (64,6%), evangélicos (22,2%) e sem religião (8%) – quem tem fé, mas não é representado por uma comunidade. A resposta ao censo é uma declaração do próprio entrevistado, e o brasileiro é considerado criativo quanto à religião. O IBGE agrupa as denominações em grandes grupos. Por isso, o cidadão que se diz kardecista é computado como espírita. Para a professora Maria Clara Bingemer, coordenadora da Cátedra Carlo Maria Martini, a ideia de uma unidade de religiões no país é equivocada.
– A visão de unicidade é equívoca. Por exemplo, os escravos africanos não aderiram ao catolicismo. As religiões dependem da cultura e elas precisam de projetos de mobilização que causem entusiasmo e não apenas proibir condutas – disse Maria Clara.
Os antropólogos, teólogos e cientistas sociais discutiram com representantes de religiões a dificuldade de definir o conceito de religião. Especialistas afirmam que é possível identificar a crença religiosa com a noção de espiritualidade. Ou seja, uma definição mais próxima à prática e à experiência, algo como uma filosofia de vida. Para Alcio Braz, psiquiatra e monge budista, religião é um conceito cristão e ocidental. Além disso, hoje, a religião seria vista mais como uma dimensão da vida privada. A imprecisão do que é religião também está relacionada ao aumento do número de jovens que não são representados por uma comunidade religiosa, de acordo com Silvia Fernandes, da UFRRJ. Segundo Maria Elise Rivas, da Faculdade de Teologia Umbandista, é preciso incluir no censo uma pergunta em que o entrevistado possa dizer se tem mais de uma religião. Mas os estudiosos alertam que há quem não diferencie prática religiosa de consultas e serviços espirituais, que são temporários.
A queda do número de católicos também foi objeto de discussões entre os especialistas. No censo de 2010, pela primeira vez, o catolicismo perdeu fiéis em números absolutos. Para os estudiosos, a queda significativa de mulheres católicas representa uma diminuição de fiéis praticantes, e não só de católicos nominais, pois elas têm uma vivência religiosa mais expressiva que os homens. Entre as consequências da diminuição de católicos, segundo os cientistas sociais, está o aumento da concorrência entre as religiões. Esse fenômeno pode gerar uma tendência de exclusão de fiéis e de maior intolerância religiosa. Mas a previsão é de que a proporção das religiões no país se estabilize nas próximas décadas, apesar de o número proporcional de evangélicos ter aumentado de 6,6% para 22% nos últimos 30 anos.
– O catolicismo deixou de ser uma religião de brasileiros e passou a ser uma religião de maioria – concluiu Clara Mafra, professora da UERJ.
Edição 261