O nome de Lúcio Cardoso é conhecido e respeitado entre os estudiosos da Literatura Brasileira. No entanto, o autor ainda é pouco lembrado como um dos principais escritores do país. No ano em que Lúcio completaria 100 anos, o Departamento de Letras e o de Comunicação Social se uniram para fazer um seminário, organizado pela professora Marília Rothier Cardoso, com a intenção de celebrar o centenário e, principalmente, divulgar a obra do autor. No dia 18 de outubro, na Sala 102-K, foram realizadas duas mesas de discussão e leitura da obra de Lúcio. Além disso, foi exibido o documentário A mulher de longe, do cineasta Luiz Carlos Lacerda, conhecido como Bigode, que reúne filmagens interrompidas do roteiro de Lúcio Cardoso.
O escritor é uma figura polêmica, principalmente para a Igreja Católica, e tem como marca abordar em contos histórias de assassinato. Lúcio, cuja obra tem semelhanças com a do escritor americano Edgar Allan Poe, escreveu mais de 300 contos, dos quais grande parte ficou perdida. A pesquisadora Valéria Lamego encontrou textos até então esquecidos do escritor e que fugiam do tema recorrente nos contos que escrevia. Os textos revelaram a relação próxima de Lúcio com o mar. “Não são contos curtos, mas são deliciosos. Estou devolvendo à Literatura algo que antes era desconhecido”, afirma Valéria.
O seminário, apesar de destacar a obra literária do escritor, não se limitou a isso. Andréa Vilela, sobrinha-neta do autor, falou sobre as obras plásticas de Lúcio que, após sofrer um derrame, passou a se dedicar à pintura. “Ele não é um pintor da observação, mas de imagens poéticas. Sua obra é feita da mesma matéria poética”, explica Andréa.
Além das artes plásticas, o seminário também revelou o talento de Lúcio para o cinema, que ficou comprovado com a exibição do documentário de Bigode. O filme A mulher de longe, que reúne pedaços de filmagens feitas em 1949, foi destaque no Festival do Rio e elogiado pela imprensa. Miguel Pereira, coordenador da pós-graduação em Comunicação da PUC, acredita que o filme revela uma sensibilidade tátil de Bigode. Segundo ele, as obras de Lúcio são diferentes das de outros escritores da época. “Ele está o tempo todo se auto refletindo. Se você não sair da sua alma, cria coisas pouco consistentes. O Lúcio tem alma”, diz.
Edição 263