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Renata Maria Cantanhede Amarante
26/11/2012 18:00
Andréia Coutinho e Felipe Marques/Foto: Daniel Vargens

Obituário: Subeditora do Jornal da PUC, Renata Cantanhede morreu aos 42 anos, três dias depois de comemorar o aniversário

Professora, escritora e jornalista, a amiga Renata deixa muita saudade

 

Uma vida dedicada à PUC-Rio

 

“Você já ouviu dizer que soldado no quartel quer serviço?” – dizia Renata Cantanhede Amarante, toda vez que algum estagiário rondava pela redação do Projeto Comunicar fora do horário. Desde o início da graduação até o último dia na Universidade, como professora e subeditora do Jornal da PUC, foram 22 anos de trajetória profissional. Renata construiu toda a carreira acadêmica na PUC-Rio – graduação em Jornalismo e em Letras, mestrado e doutorado em Letras. Ela morreu três dias após completar 42 anos, na manhã do dia 20 de novembro, por insuficiência respiratória.

 

Ex-estagiária do Comunicar e atual subeditora do Jornal da PUC, ela se destacava por ser sagaz e pela forma impecável de escrever. Segundo os colegas de trabalho, não havia assunto para conversar que ela não soubesse. O ex-estagiário do Comunicar, Filipe Nunnes, lembra do projeto pedagógico seguido por Renata no estágio. “Ela sabia cobrar e, ao mesmo tempo, podíamos conversar sobre séries de TV, carreira, salário”, relembra ele. Renata ministrava a disciplina Edição em Jornalismo Impresso. Nos anos anteriores, também esteve à frente das disciplinas Edição em Jornal, Rádio e TV, Oficina de Texto e Técnicas de Reportagem. O primeiro livro de Renata, Guerreiros de Darinka, foi publicado em 2005. Segundo a coordenadora-administrativa do Comunicar, Rita Luquini, Renata se destacava pela competência profissional. Ela sempre liderava porque sabia o que estava fazendo.

 

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Foi uma longa convivência.  Na década de 90, Renata foi minha aluna em duas disciplinas. Esteve sempre entre as melhores: texto muito bom, com domínio da língua como poucos. Depois  foi  estagiária no Núcleo de Jornalismo Impresso do Projeto Comunicar. E, mais uma vez, demonstrou habilidade com o texto e com a edição. Formada, acabou se juntando a nossa equipe e, logo no início, assumiu o Comunicar como se fosse um integrante de longa data. Dedicação e engajamento são algumas das características que me fazem lembrar dos anos que passamos juntos, uma parceria que faz parte da história do Projeto.

 

Fernando Ferreira

Coordenador Emérito

do Projeto Comunicar 

 

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Traços de uma vida jovem 

 

Renata Cantanhede foi uma aluna exemplar. Parece frase feita, mas não é. Tive o privilégio de tê-la em sala e apreciar as suas qualidades estudantis. Cooperativa e ao mesmo tempo reflexiva, Renata era de levar até o fim todas as tarefas da vida acadêmica. Foram essa persistência e determinação que me encantaram e tornaram possível o verdadeiro primeiro número da revista Eclética, espaço destinado à publicação da produção da disciplina de Edição em Jornal, Rádio e TV, na época, por mim ministrada. Antes do número zero, existiu um número que, embora não publicado, foi editado por Renata e uma afinada equipe da turma.

 

Como viria a demonstrar mais adiante, sua vocação de conjugar elementos para compor um  pensamento articulado, qualidade essencial de um editor, a nossa recém-formada, depois do estágio no Projeto Comunicar, foi contratada para aprofundar esse aprendizado ao lado do mestre Fernando Ferreira, o editor-chefe do Projeto. A convivência passou a ser mais próxima e Renata foi aproveitando e assimilando o melhor estilo do processo jornalístico, até se tornar subeditora do Comunicar. Começou então uma carreira profissional orientada e bem conduzida na dinâmica do dia a dia de um jornalismo institucional eficiente.

 

Em paralelo, continuou estudante. Primeiro, na graduação de Letras (1996/1999) e depois no mestrado e doutorado. Fez a formação completa, atendendo a uma evidente veia literária que seu espírito estético sempre reclamou. No mestrado (2000/2002), enveredou por um método que enlaçava as letras com a comunicação, com a dissertação “Começando do princípio – Uma análise do lead como subgênero discursivo em português e inglês”, orientada pela professora Lúcia Pacheco de Oliveira. Renata considerava esses campos complementares e intimamente correlacionados. Não existe jornal sem texto, como não existe poesia sem a palavra. Ambos têm como matéria-prima o pensamento, os afetos e os dramas humanos transformados na expressão textual. No doutorado (2005/2009), aprofundou essa mesma metodologia e produziu um trabalho original que também toca nos dois sistemas expressivos. “Heróis de papel: A imagem do jornalista em notícias de guerra e esporte através da perspectiva sistêmico-funcionalista e da análise de corpus” é o titulo da sua tese, também orientada pela professora Lúcia Pacheco. Fui honrado com o convite para participar das duas bancas, o que me permite afirmar a qualidade das pesquisas e o primor de seus textos.

 

Um outro traço que caracterizou a passagem de Renata pela PUC-Rio foi o da mestra e professora. Mestra porque soube orientar com precisão e afeto seus estagiários do Projeto Comunicar e professora pela sua capacidade de transmitir o conhecimento que adquiriu ao longo da vida com suavidade, rigor acadêmico e atenção a cada aluno que frequentava as suas aulas. Renata deixou em todos que com ela conviveram o sentimento da perda de uma jovem profissional que ficará na memória como uma luz que não se apaga.

 

Prof. Dr. Miguel Pereira

Coordenador do Projeto Comunicar e do

Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUC-Rio

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Carta aberta dos ex-estagiários

A cena era relativamente comum: algum dos estagiários havia conseguido uma vaga em outro lugar “lá fora” e ia se despedir do Jornal da PUC. Todos nós abraçávamos quem ia embora, genuinamente felizes por mais um “passo” alcançado na carreira do colega iniciante. É inevitável: o mercado costuma absorver com gosto quem passou pelo Projeto Comunicar. Quando esse estagiário resolvia dar “tchau” às chefes, abraçava uma emocionada Renata Cantanhede, que - não raro - estava com os olhos cheios de água.

Logo a durona da Renata? Aquela que é tão rígida na hora de cobrar e de exigir o melhor de seus alunos e estagiários? Sim. Ela exigia porque sabia que seríamos capazes de fazer. E se não conseguíssemos, ela vinha para o nosso lado e nos fazia ser. Explicava quantas vezes fossem necessárias. Nunca como chefe, sempre como professora. Aliás, gabaritada professora. Daquelas que explicam o porquê da regra gramatical como uma gramática falante, coisas que só uma Doutora em Letras poderia fazer.

Muitas vezes ela também foi amiga.  Sempre que o trabalho permitia, sentava conosco para rir e fazer piadas. E nas férias escolares, quando o ritmo é bem mais leve, disputava (e quase sempre vencia) as animadas partidas de “Perfil” e “Stop” que a gente organizava.

As histórias, sua paixão, não ficavam só nos livros que lia e escrevia. Depois do lanche da tarde, chegava manso na redação com sua Coca-Cola e o típico olhar de Renata. Desconfiada e interessada, doida para saber o que os estagiários estavam aprontando. Antes de voltar às notinhas do PUC Urgente, havia tempo para o plágio que descobriu no último trabalho que passou em aula e a desculpa cara de pau do aluno fulano. O fulano, apesar de nossa insistência e para tristeza de todos, nunca tinha o nome revelado.

Nossas experiências do Jornal da PUC vão nos marcar para sempre. E é indiscutível que as lições da Renata foram fundamentais para isso. Das reuniões de pauta às aulas de português. Na família Comunicar, a Renata era uma irmã mais velha. Jovem há mais tempo, tinha a expertise para nos ensinar os atalhos e ajudar a prevenir os erros. Quando entramos pela porta cinza do 4º andar pela primeira vez, estávamos crus. Saímos preparados para enfrentar os desafios que o “mundo real” nos apresentava. Talvez fosse essa mudança que a deixasse tão emocionada com a despedida. E agora, que dizemos adeus, nos emocionamos também. Afinal, nos damos conta que para toda nossa vida pessoal e profissional carregaremos um pouco da Renata conosco.

 

Edição 264

 

 

 

 

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