Portinari em vivas cores novamente e para todos
30/04/2013 19:23
Luana Chagas / Foto: Acervo Projeto Portinari

‘A Primeira Missa no Brasil’ poderá ser vista por um grande público em museu carioca

Imagem do Quadro ‘A Primeira Missa no Brasil', que está exposto no  Museu Nacional de Belas Artes

Após ficar 60 anos no mezanino de um prédio comercial, o quadro A Primeira Missa no Brasil, de Cândido Portinari, é restaurado e ganha espaço nobre no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (MNBA). A obra, que foi adquirida pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) fará parte da mostra Quando o Brasil amanhecia, que foi inaugurada no dia 20 de abril. O quadro ficará ao lado da tela de mesmo tema, de Victor Meirelles, feito um século antes. A pintura assinada por Portinari não pode deixar o Rio de Janeiro porque foi tombada em 1992 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac).

A restauradora Larissa Long, 36 anos, trabalhou na recuperação de A Primeira Missa por cerca de um mês - apenas para fazer a limpeza, foi necessária uma semana. Por conta das grandes dimensões do painel, o processo exigiu um mapeamento do quadro, que foi dividido em partes. Além disso, explicou Larissa, foram realizados exames especiais com luz normal, transversa, ultravioleta e infravermelho, para verificação dos retoques alterados.

– É uma grande responsabilidade trabalhar em uma obra do Portinari, ainda mais uma tão divulgada, que será exposta, um acervo do museu e patrimônio da nação – afirmou a restauradora.

Larissa teve a ajuda de Elizabeth Grillo, restauradora há mais de 20 anos. Juntas, limparam apenas com solvente e palitos com algodão enrolado toda a extensão da obra de arte, fixaram as áreas descoladas e finalizaram com retoques de tinta.

Amplo e estonteante nas vivas cores que retratam o olhar do artista sobre a primeira missa, o painel foi uma encomenda do Barão de Saavedra para decorar uma das salas do Banco Boavista, no Edifício Pio X, no Centro. Em 1948, com técnicas de têmpera, Portinari projetou durante três meses em Montevidéu, no Uruguai, o quadro, que tem 2,70m de altura por 5,20m de largura. Durante o trabalho, ele se dedicou a estudos sobre a história do Brasil, necessários para se aprofundar no tema. Em uma carta, o artista disse ter passado muito tempo fazendo “temas patéticos”.

Com traço moderno, Portinari retrata uma realidade mais subjetiva no painel, e, para críticos, como o jornalista Antonio Bento, o cromatismo de A Primeira Missa é uma das grandes realizações do pintor como colorista. No livro que escreveu sobre Portinari, Bento diz que, para criar mais livremente, o artista não se preocupou com a descrição do cronista da expedição de Pedro Álvares Cabral.

A tela foi apreciada em apenas três locais. Quando ficou pronta, foi exposta em Montevidéu, antes de ser transferida para o Rio, onde ficou 60 anos no hall do edifício Pio X. Em 1951, o quadro foi exibido na primeira Bienal, em São Paulo.

O Projeto Portinari forneceu documentos sobre o quadro para a mostra do MNBA. Pesquisadora do Projeto, Noélia Coutinho observou que o artista sempre gostou de explorar todas as possibilidades de arte. Nos cinco mil trabalhos que produziu durante a vida, ele passou pela têmpera, pelo grafite, afresco, entre outros processos artísticos.

– Ele não tem um estilo definido e não se prende a uma técnica específica. Tem obras que passam da têmpera ao grafite. Não ficou preso a nenhum estilo, técnica ou escola, gostava de experimentar – disse ela.

Edição 268

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