A Filosofia para quem não é filósofo
13/05/2013 09:00
Rodrigo Zelmanowicz

Estudiosos debatem sobre como tornar a Filosofia mais presente na sociedade

Danilo Marcondes (E) e Edgar Lyra (D) participam de seminário


Inúmeras questões foram levantadas em busca de uma resposta para a pergunta “Para Quem Fala a Filosofia?”, que dava nome ao colóquio organizado pelo Departamento de Filosofia, e realizado entre os dias 6 e 8 de Maio, na PUC-Rio. A partir da indagação, alunos, professores e profissionais de diversas áreas debateram e refletiram sobre o ensino, a presença da filosofia na mídia e a interação com outras disciplinas.

A professora Rejan Bruni, do Curso de Ciências Biológicas da PUC-Rio, foi chamada para contar como a filosofia pode ser usada em sua área de atuação. Ao iniciar, Rejan brincou dizendo que se sentia constrangida por falar de uma matéria tradicional e concreta para um público, em sua maioria de filósofos, que costuma se utilizar na maior parte do tempo do campo imensurável das ideias. Ela disse que, apesar de trabalhar com o palpável e o real, o contato dos estudantes de biologia com os pensadores é essencial, principalmente nos dias de hoje, em que se demandam as “questões das evidências”.

- Qual evidência que você tem para dizer que transgênicos fazem ou não mal a saúde? Qual evidência que se tem para que se diga que tal espécie deve ser conservada? A biologia é convocada para essa área por causa dessa sociedade consumista, que dá utilidade e descarta com uma facilidade excepcional. Nós temos que nos armar de bastante conteúdo para a argumentação de questões. Vejo a filosofia como uma alternativa para iluminar as pessoas a entenderem melhor e assim, interagirem com o mundo que está em transformação.

Para Arthur Ituassu, professor do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, a mídia tem um papel poderoso na construção social da realidade e na alimentação de ideologias. Por isto, a questão que a filosofia coloca para o jornalismo atualmente é a responsabilidade ética na construção de narrativas midiáticas em um mundo pautado pela lógica comercial.

- É preciso que o comunicador tenha realmente noção da responsabilidade ética do mundo que ele está constituindo, do mundo que ele reproduz, e isso passa fundamentalmente pela filosofia, pela reflexão, por exemplo, dos processos hegemônicos e hierárquicos, que são constantemente alimentados pelas narrativas midiáticas.

Leandro Chevitarese, professor de filosofia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), considera que a mídia apresenta um conflito à filosofia. Segundo ele, com romances bem feitos como O mundo de Sofia, é possível tornar a filosofia mais acessível e despertar o interesse. Mas, assinalou, a mídia tende a simplificar as discussões filosóficas em proposições gerais.

- Em entrevistas se faz uma pergunta e se espera uma resposta padrão, um comentário genérico e breve sobre problemas insolúveis. Além disso, a edição pode recortar frases soltas. Hegel diria “a filosofia reduzida a uma grande galeria de opiniões”, e certamente a filosofia não é isso.

Danilo Marcondes, professor titular do departamento de filosofia da PUC-Rio, apontou o ensino para alunos que não são da área da filosofia como o maior desafio. Como mostrar a essas pessoas, que a filosofia tem algo a dizer? Pensando nisso, Marcondes propõe uma articulação entre o falar e o ouvir, tendo em vista a grande utilidade da pergunta, essencial para esse estudo.

- A filosofia não é óbvia para os outros. Então, para atrair interesse deve-se pensar em temas transversais e articular o ensino da filosofia com as outras matérias. Devemos nos preocupar com as perguntas que são feitas. Precisamos recuperar o “interrogar” das pessoas, ao invés de reprimir questões baseando-se no discurso da ordem da afirmação. A filosofia fala para quem tem questões.

Para Marcondes, uma abordagem didática filosófica pluralista e diversificada é fundamental, e trabalhar por meio da história da filosofia permite mostrar aos alunos a contribuição que ela deu para formular as questões que debatemos até hoje.

O professor convidado Eduardo Barra da Universidade Federal do Paraná (UFPR) lembrou, baseando-se em Thomas Kuhn, a importância de se levar os textos filosóficos para as salas de aula, proporcionando o contato direto do estudante com o filósofo. Mas, observou, em traduções inteligíveis, não literais, com o uso de vocabulário adequado, apropriado para quem o ensino se direciona.

Uma das organizadoras do seminário, Luisa Buarque, professora do Departamento de Filosofia, espera que o debate proporcionado pelo colóquio venha estimular a capacidade de diálogo entre professores e alunos, tendo em vista o desafio imposto ao professor de filosofia de levar a matéria para outras áreas.

- Os professores têm a necessidade de falar e atingir, e os alunos querem ser ouvidos. Começamos a ver que o professor de filosofia se vê diante de diversas instâncias ao falar na mídia ou para alunos de outras disciplinas, e o colóquio abriu espaço para o diálogo.


Edição 269

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