Vilão oculto no cardápio diário
14/05/2013 16:22
Nicole Lacerda/Ilustração:Diogo Maduell

Sal está presente em todos produtos industrializados

Na hora do almoço, o saleiro é um componente indispensável na mesa, pois muitas pessoas consideram que os alimentos ficam mais saborosos quando adicionamos aquela pitada de sal. Porém, este é um dos mais temidos vilões para a nossa saúde e, ao mesmo tempo, é o menos combatido. O consumo excessivo de sal é o principal fator que causa o aumento da pressão arterial, levando a problemas mais sérios como hipertensão, acidentes vasculares cerebrais e ataques cardíacos.

Existe um círculo vicioso. Algumas pessoas colocam o sal na hora do preparo da comida e quando ela chega à mesa. Além disto, os alimentos industrializados, cada vez mais consumidos, contêm uma alta quantidade de sódio.

Aluna do curso de Comunicação Social da PUC-Rio, Bruna Lacombe, 20 anos, alega que tem pressão baixa e diz ser viciada em comer sal.

– Coloco sal em tudo, no arroz, no feijão, na salada principalmente. A comida fica sem gosto se não for salgada.

Professor de pós-graduação do curso de cardiologia da PUC-Rio Roberto Bassan aconselha que a jovem mude o costume o mais rápido possível, pois corre grandes riscos de desenvolver no futuro hipertensão. E, quanto mais o tempo passar, mais difícil será se reeducar.

– Por enquanto, o sal não está causando nenhum malefício, pois ela é jovem e ainda não houve tempo para desenvolver a doença. Recomendo que ela reduza drasticamente a ingestão para não se tornar uma hipertensa em alguns anos – observa o cardiologista.

O sal não existia como alimento até o fim do século XIX e, em consequência, a hipertensão arterial praticamente não existia. Mas no século XX, ele começou a ser comercializado e utilizado nos alimentos industriais. Uma mudança de hábito que fez com que a ingestão de sódio, que era mínima, aumentasse de tal maneira que, hoje, a maior parte dos países ingere de oito a dez vezes mais do que se consumia no século XIX. Para Bassan, a sociedade exige cada vez mais alimentos salgados para saciar o desejo pelo prazer degustativo.

– Enlatados, envazados, todos esses alimentos comercializados em conserva contêm muito sódio, para que durem meses e às vezes até anos – observa o professor.

Ingestão acima do permitido

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece como quantidade adequada o consumo de 1.500 a 2.000mg de sódio por dia. Segundo a nutricionista Ana Carolina Freitas, esse número equivale a cinco tampinhas de caneta BIC cheias de sal. Parece uma pequena quantidade, mas tudo o que uma pessoa come durante o dia, entre café da manhã, almoço, jantar, lanche, passa longe do recomendado.

Mais da metade da quantidade de sal ingerida vem da comida consumida na rua, na qual não há controle individual da quantidade de sódio usado. Ao lanchar em uma rede de fast food, por exemplo, uma pessoa ingere, no mínimo, de 3.000mg a 4.000mg de sódio. Uma garrafa de 600ml de refrigerante zero contém de 60mg a 80mg. Adoçantes e doces também têm sódio.

A solução é medir o consumo, veirificar a porção no rótulo, reduzir a quantidade ao preparar o alimento e retirar o saleiro da mesa. Uma boa opção é substituir por condimentos, como alho, cebola, e temperos. Para o cardiologista, é preciso conscientizar a sociedade de que o sódio é um vilão para a saúde.

– Tem que escolher o que vai comer – afirma.

Hipertensão está entre as doenças provocadas pelo uso demasiado

A ingestão excessiva de sódio faz o organismo reter água e provocar um edema. O sódio entra pelas células do corpo e endurece os vasos sanguíneos, os tornando menos flexíveis e aumentando a pressão arterial. Quanto mais sódio é ingerido, mais a pressão arterial aumenta, o que leva à hipertensão arterial.

Se permanecer por alguns anos, a pressão alta pode afetar as artérias de três grandes órgãos: cérebro, coração e os rins. No primeiro, pode provocar o acidente vascular cerebral (AVC). No segundo, o consumo excessivo também pode ocasionar a obstrução ou entupimento das artérias do coração, causando enfarte. No terceiro, os rins podem ficar sobrecarregados, o que causa insuficiência renal.

Rita de Cássia do Nascimento Leite, secretária da pós-graduação do curso de Engenharia Civil da PUC-Rio, sofre desse mal. Com 51 anos, há mais de dez ela é hipertensa. Rita descobriu a doença porque começou a sentir constantemente fortes dores de cabeça. Sonolência, dor de cabeça frontal, alternada com dor na nuca, tontura, náusea e enjoos são outros sintomas. A secretária passou por uma reeducação alimentar, toma remédios regulados e cortou o sal da comida.

– A gente tenta se reeducar. Quando faço comida em casa, corto o sal, mas não posso controlar quando como na rua. Não coloco sal na mesa – afirma.

Para o cardiologista, a sociedade terá que aprender a apreciar comidas com menos sal, um costume que existe há mais de um século.

Edição 269

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