Os médicos Otávio Omati, anestesista, e Alexandre Charão, cirurgião, falaram de suas atuações em países como Sudão, Paquistão e Indonésia. Pobreza, falta de infra-estrutura, violência e catástrofes naturais trabalham contra a boa vontade dos médicos de levarem assistência a boa parte do mundo.
– Quando chegamos no Sudão não vimos nenhuma construção. E depois descobrimos que não tinha nem tijolo para vender no país. Tivemos que dormir em barracas todos os dias, contou Otávio.
Outra dificuldade é a descrença de algumas populações. Muitas pessoas têm medo dos médicos, outras têm resistência contra tratamentos com remédios a que não estão acostumados. Saber lidar com essas diferenças culturais é, inclusive, uma premissa para os profissionais que trabalham no MSF.
– Precisamos ter em mente que ao examinar uma mulher muçulmana, por exemplo, ela não poderá tirar nenhuma peça de roupa na nossa frente. Mesmo que seja necessário. Tudo precisa de muita cautela, senão o paciente não volta mais, disse Alexandre Charão, há dois anos no MSF.
Além de explicarem o dia-a-dia dos atendimentos, os médicos falaram também de algumas experiências marcantes, como a de Alexandre na Indonésia, dois meses depois do tsunami que devastou o país em dezembro de 2004.
– Fomos atender as pessoas que estavam isoladas, sem hospital por perto. Na estrada, cruzamos com navios que tinham sido arrastados pela força das águas. Inacreditável, assinalou.
Segundo Simone Rocha, diretora executiva do MSF no Brasil, a idéia da ONG é suprir o vácuo de solidariedade ao redor do mundo e chamar a atenção da opinião pública internacional para regiões esquecidas.
– Estamos onde o progresso e o futuro ainda não chegaram. Sempre vamos para onde as pessoas não querem ir.
Os profissionais ressaltaram também os pontos positivos desse tipo de trabalho, que vão além da boa sensação de ajudar a quem precisa.
– Você se enriquece muito culturalmente. Conhece várias religiões e povos. E muita coisa que você aprende nos atendimentos pode ser utilizada nos hospitais daqui, disse Alexandre.
Edição 184