Jairo Severiano, pesquisador de música popular brasileira, diz que Jamelão iniciou a carreira de cantor com a rancheira Sá Mariquinha, de Luiz Assunção e Evenor Pontes. Ele também era compositor e assinava as canções como José Bispo. Mas o marco inicial, que lhe deu fama como cantor de samba-canção, foi Folha Morta, de Ary Barroso.
– Ninguém melhor do que Jamelão interpretou o rei do samba- canção tradicional, que foi Lupicínio Rodrigues – assinala.
Segundo Severiano, entre 1917 e 1970, reinou a canção carnavalesca. O início foi com Pelo Telefone, composição considerada o primeiro samba, assinada por Donga e Mauro de Almeida. A canção carnavalesca teve seu fim com Bandeira Branca, famosa marchinha interpretada por Dalva de Oliveira.
– A partir de 1971, adotaram- se os sambas-enredo e a participação de Jamelão no carnaval aconteceu nos dois momentos. Ele foi importante no começo da decadência da canção carnavalesca tradicional, nos anos 1950, e mais ainda com os sambas-enredo.
Ator, escritor e produtor cultural, Haroldo Costa, diz que o momento mais marcante do intérprete da Estação Primeira de Mangueira foi no carnaval de 1988, centenário da Abolição da Escravatura, quando conduziu “com maestria” o desfile cantando o samba Abolição: Realidade ou Ilusão.
Para Costa, Jamelão foi um dos maiores cantores românti cos do país e o mais importante intérprete de sambas-enredo.
– Jamelão era oriundo de cabarés e gafieiras, lugares onde o aprendizado era como um vestibular para o aspirante a cantor. Ele criou um código de disciplina que muitos intérpretes seguem.
É muito comum associar o nome de Jamelão à escola de samba Verde e Rosa. Para Bernardo Conde, professor de Antropologia da PUCRio, o intérprete quando vai se apresentar, tem que ser exuberante em defesa de um ideal maior que é a escola de samba. E Jamelão conseguiu isso, tornando-se “a cara” da Mangueira.
– O intérprete identifica a escola e, ao mesmo tempo a identidade da escola retorna para o cantor. O Jamelão tem uma dessas características de identidade que é colada à Mangueira, com o vozeirão, com a marca e uma personalidade que se confunde com a escola.
Aos 9 anos, Jamelão começou a ganhar os primeiros réis (moeda da época) como pequeno jornaleiro. Depois de trabalhar como operário, nos anos 1930, foi levado à Mangueira pelo compositor Gradim, amigo de Cartola e Carlos Cachaça, e entrou para a bateria da escola tocando tamborim. Nunca mais abandonou a escola, na qual permaneceu até a morte, aos 95 anos, no dia 14 de junho de 2008.
Edição 271