Trinta e três anos de carreira retratados em um documentário sob o olhar de um filho. Onze anos após a morte de Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, o jornalista Tim Lopes, seu filho, Bruno Quintella, resolveu homenageá-lo nas telonas com o documentário Histórias de Arcanjo, que tem estreia prevista para 2014. Em 2002, Tim Lopes foi sequestrado, torturado e morto por traficantes da Vila Cruzeiro durante uma reportagem sobre o abuso de menores em um baile funk.
A ideia partiu de Guilherme Azevedo, diretor do filme, amigo e colega de trabalho do jornalista, que encontrou Quintella pelos corredores da Rede Globo. A princípio, o filho de Tim gostou da sugestão, mas, ainda abalado, não se sentia preparado para levar o projeto adiante. Cinco anos depois, em 2009, os dois bateram o martelo para iniciar o trabalho.
– O objetivo era entrevistar pessoas próximas ao meu pai, amigos, parentes, que tinham alguma história interessante sobre ele, triste, engraçada, alegre, mas que fosse relevante acima de tudo – conta Quintella.
Tim era um apaixonado pela profissão, lutou por causas sociais, e gostava de viver as situações para produzir uma reportagem. No documentário, Bruno busca descobrir, a partir de uma carta escrita pelo pai, o homem, o amigo, o jornalista por trás do mito.
Para Quintella, um dos maiores desafios da produção do documentário foi ir até a Pedra do Sapo, local onde Tim morreu. Nesse dia, a direção interferiu muito pouco, a câmera ligada registrou os pensamentos do filho. Azevedo observa que esse momento foi muito importante para Quintella e, ao mesmo tempo, transmitiu um sentimento muito bom para o filme.
– Foi a primeira e única vez que eu estive lá, foi como se eu tivesse encerrado um luto. Não que eu estivesse sofrendo o tempo inteiro, eu simplesmente ignorava certas dores. Nesse caso, a saudade do meu pai – lembra o filho.
O documentário foi lançado na 15ª edição do Festival de Cinema Brasileiro de Paris, em abril deste ano. Na primeira exibição pública lotou a sala do cinema L’ Arlequin. Segundo Azevedo, foi o filme mais procurado na bilheteria.
Azevedo diz ter realizado o sonho de contar a história do jornalista na sua estreia como diretor. Ele lembra que o trabalho mais marcante que realizou com o amigo foi uma série sobre clínicas clandestinas de dependentes químicos, onde passaram 25 dias produzindo para o Jornal Nacional.
– Acho que apostei no lugar certo, o Tim tem uma grande importância para classe jornalística. Além disso, me sinto bem por fazer algo por ele – comenta o diretor.
Como pai, Tim tratava o filho como um irmão mais novo. Segundo Quintella, seu pai tinha a preocupação de soltá-lo no mundo, sempre o alertava sobre os perigos da vida, mas tinha medo de que o filho virasse um playboy da Zona Sul.
– Meu pai era muito carinhoso, atencioso e ao mesmo tempo me botava no trilho, de uma maneira sempre muito da ginga, da malandragem, não me proibia, não me castrava, simplesmente mostrava que certas coisas não eram boas por causa disso e daquilo.
Tim Lopes fazia jornalismo de um jeito próprio, conseguia fazer com que as pessoas se abrissem de forma espontânea. Bruno Quintella acredita que não existem mais repórteres como Tim. Ele lembra que o pai sempre dizia “A matéria não está nos lugares, e sim, nas pessoas”.
– Meu pai era brilhante não só pela matéria que falava das drogas, não só pelo motivo que morreu, mas por tudo que viveu.
Edição 271