Há muitos anos estudando a vegetação na região do arquipélago das Cagarras, o professor Rogério Ribeiro de Oliveira, do Departamento de Geografia e Meio Ambiente da PUC- -Rio, encontrou vestígios que indicam a presença humana pré-histórica nas ilhas. O arquipélago é composto pelas ilhas Cagarra, Comprida, Palmas e Redonda, que foi o objeto de estudo do projeto Ilhas do Mar, patrocinado pelo Instituto Mar Adentro, com participação da PUC-Rio, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Museu Nacional.
O estudo de Ribeiro gerou o trabalho Uma omelete para a primitiva Garota de Ipanema, em que ele relata o uso de recursos das ilhas na pré-história. Segundo Ribeiro, das 20 visitas realizadas pela equipe de pesquisadores, apenas seis foram para a ilha Redonda, por conta das dificuldades de se chegar lá.
– A Redonda é a mais distante, fica a quase 10 km da orla de Ipanema, a mais alta, e sempre deixamos para o final porque envolvia uma logística muito mais complicada. Você cai no mar, tem que mergulhar, sair, e depois tem que fazer um trecho de escalada.
Para a surpresa de todos, resolver finalmente enfrentar o mar e o paredão de pedra mudou os rumos da pesquisa. Por ser uma área de difícil acesso e que não tem fontes de água doce, a ilha Redonda tem uma vegetação preservada. E, ao caminhar pelo lugar, o professor encontrou antigos objetos de cerâmica.
– Estava andando e, de repente, apareceram no chão alguns cacos de cerâmica. Pensei: ‘que troço estranho, parece gamela de macumba’. Isso aqui é uma coisa antiga – lembra.
Foram achados três machados de pedra, um pilão, 14 quebradores de coquinhos e dezenas de cacos de cerâmica. E, como Ribeiro também cursava um pós-doutorado na parte de arqueologia do Museu Nacional, levou as peças para serem examinadas na instituição.
– Fizemos um grupo de estudos e concluímos que essa cerâmica é da tradição Tupi-Guarani, que tem entre 500 e 3 mil anos. Então, é completamente pré-colonial e pré-histórico.
Mas as descobertas não pararam aí. Na área em que estavam os vestígios arqueológicos, uma planta da família da convolvulácea e do gênero ipomeia, foi encontrada. Eram raízes de batata-doce.
– O único detalhe é que a batata-doce é originária do México e Peru. Então, há 500 ou até 3 mil anos, a batata desceu o México inteiro, atravessou o continente e chegou às ilhas.
Agora o grupo prepara um trabalho sobre a descoberta para apresentar no Congresso Mundial de História Ambiental, no ano que vem em Portugal.
– É uma coisa completamente inusitada você encontrar uma batata-doce pura, direto da fonte. É possível que ela tenha até algum valor agronômico, porque geneticamente ela está isolada lá.
Edição 275