As várias ‘áfricas’ em um continente
30/05/2014 15:34
Alessandra Monnerat, Arthur Macedo e Norman Prange

Estudiosos abordaram temas como religião, cultura, história e literatura na Semana da África, encontro organizado pelo Nirema

Quando se falava na África, há alguns anos, muitas pessoas pensavam no continente como um país só. Mas, com mais informações sobre os países africanos, esse estereótipo está em processo de se desfazer. A historiadora Teresa Cruz e Silva, da Universidade Eduardo Mondlane, de Moçambique, compartilha a visão de que um maior contato com a cultura africana aumenta o conhecimento sobre as regiões.

– Encontro estudantes universitários que falam da África como única unidade. Eles perguntam-me se quando abro a torneira saem cobras, ou como é o sistema de educação na África. São várias “áfricas” no continente – ressalta.

O Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente (Nirema) organizou, entre os dias 26 e 29 de maio, a Semana da África para promover as histórias, identidades e narrativas do continente. A África sofre, historicamente, com preconceitos em relação à violência e à pobreza. Um dos maiores estudiosos sobre o continente, o ex-diplomata e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) Alberto da Costa e Silva viveu, entre 1960 e 1974, em diversos países africanos e guarda “excelentes” recordações daquela época. Ele, que é doutor em História, afirma que a imagem da África não corresponde à realidade.

Alberto da Costa e Silva palestrou sobre o tema Uma África: várias Áfricas?

– Temos a visão de que a África é violenta e pobre. Mas os conflitos estão em curso em todos os continentes. Tendemos a ver a África sempre de uma perspectiva herdada do escravismo, que procurou colocar o africano nos lugares mais baixos da humanidade, como se ela fosse uma escada e não uma planície – analisa.

A África é composta por 54 nações, cada uma com diferentes culturas, religiões e identidades. A Nigéria, um dos países de maior crescimento nos últimos anos, ainda sofre de desigualdade social e conflitos étnicos. Costa e Silva, que começou a estudar história africana em 1948, aponta os principais problemas do país.

– A Nigéria pós-independência passou por momentos de progresso e, por outro lado, de problemas. Ainda precisa resolver vários problemas sociais para fazer a conciliação entre as etnias. Praticamente todos os países do mundo são formados por diferentes nacionalidades, que se conjugam para formar um país. E na África isso é evidente – explica.

Devido à época da escravidão, há uma ponte histórica entre o Brasil e a África. O professor de História Africana na Universidade do Benin Elisée Soumonni acredita que é impossível entender a história sem estudar o continente africano.

– O estudo da Europa e América sem referência à África não faz sentido. Até a Europa não pode ignorar a contribuição africana para seu desenvolvimento. A época da escravidão trouxe milhões de negros para as colônias na América. Há uma ligação entre os três continentes – conclui.
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