(foto: Carolina Jardim)
Nove de novembro de 1989. Cai o muro de Berlim. Dois jovens alpinistas nascidos na Alemanha Oriental – e até então proibidos de sair do leste europeu – resolvem conhecer o mundo. Sem dinheiro e sem falar outra língua além do alemão e do russo, Axel Brümmer e Peter Glöckner deixaram a Alemanha ainda não reunificada na primavera de 1990. Ao longo de dezessete anos, os dois visitaram 140 países. Em 19 de março último, Axel e Peter estiveram na PUC-Rio para mostrar algumas das fotos que ilustram as aventuras. O encontro, organizado pelo professor Paulo Rubens Fonseca, do Departamento de Comunicação Social, lotou a Sala 102-K. Atenta, a platéia ouviu as histórias dos viajantes, que reconstituíram o trajeto que fizeram.
uma bicicleta e Peter, equipamentos do barco
Depois do sucesso da primeira viagem, seguiram-se outras. Os aventureiros atravessaram, de bicicleta, o deserto da Austrália. Foram à Amazônia, onde moraram por cinco anos. De caiaque, fizeram uma expedição pelo Rio Amazonas, e remaram durante um ano e meio. "A Amazônia é o lugar onde há mais lendas no mundo. Não é tão perigoso quanto parece. O modo como a natureza funciona é perfeito", disse Axel.
Em todas as viagens, os dois alemães registravam em fotografia o que presenciavam. Peter girava a lente para a natureza. Axel preferia os retratos. No início, eram fotógrafos amadores. Hoje, recebem patrocínios e publicam livros.
de areia na travessia do deserto australiano
Mas os motivos que os levaram a percorrer o mundo vão além do prazer de fotografar. Em 2001, Axel e Peter repetiram a primeira viagem de bicicleta com um objetivo específico: tentar aproximar Oriente e Ocidente. Atravessaram a Ásia, novamente, sobre duas rodas. A intenção era dialogar com as pessoas e compreender as diferenças. Ao longo do trajeto até Pequim, testemunharam conflitos e guerras civis. "O momento em que tivemos mais medo foi quando estávamos no Líbano. Peter foi confundido com um espião israelense e quase foi morto", disse Axel.
Para fazer a viagem de volta à Europa, os aventureiros inspiraram-se na história de Marco Polo, que, a bordo de um junco chinês, partiu do Extremo Oriente em direção a Veneza, em plena Idade Média. Axel e Peter pretendiam refazer a rota do navegador também em um junco. Conseguiram o barco, que recebeu o nome de Kublai Kahn, em homenagem ao imperador chinês que financiou a viagem de Marco Polo. Mas Axel e Peter tiveram pouca sorte no início: um furacão no Oceano Índico afundou a embarcação, e os dois alemães ficaram à deriva.
ponte Penang, na Malásia, uma das mais
compridas do sudeste asiático
A viagem foi retomada somente quando os aventureiros terminaram de construir o Kublai Kahn II. Partindo de Hong Kong, o novo junco abrigou – ao longo de todo o trajeto – cerca de 200 pessoas de 26 países diferentes, inclusive oito brasileiros. O barco sobreviveu, no mar, à tsunami no Sri Lanka. No início de 2006, o junco chegou ao canal de Veneza.
Felipe Caruso, ex-aluno da PUC-Rio, fez parte da tripulação do Kublai Kahn II por dez meses. Ele contou que soube da aventura por amigos. "Qualquer pessoa é bem-vinda na viagem. Não existe um processo de seleção para participar dela. Basta ter vaga no barco que, por motivos de segurança, comporta doze pessoas", disse Felipe.
O próximo projeto de Axel e Peter será refazer a rota de Pedro Álvares Cabral. A bordo do Kublai Kahn II, eles partirão de Lisboa, em agosto deste ano, em direção à cidade de Porto Seguro. O percurso terminará com a chegada ao Rio de Janeiro no carnaval de 2008. Quem se anima a embarcar?
Edição 184