O professor Roberto Schaefer, da Coppe/UFRJ, é um dos sete especialistas que representam o Brasil no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e um dos responsáveis pelo terceiro volume do quarto relatório do painel, que será divulgado em maio. Nesta conversa com o JORNAL DA PUC, ele ressaltou a dificuldade de reduzir as emissões de carbono, a gravidade do aquecimento global e as necessidades de aprendermos a viver em um planeta mais quente.
JORNAL DA PUC: O aquecimento global é um assunto que está sempre presente na mídia. Por que esse interesse?
Roberto Schaefer: As mudanças climáticas ganham essa dimensão porque há coisas novas acontecendo. O fato é que, de 2001 para cá, o conhecimento científico aumentou muito. Não há a menor dúvida de que o planeta está se aquecendo e que isso é causado pela mão humana. Esse cenário futuro hoje começa a ser um pouco mais assustador do que o que se imaginava há alguns anos.
JP: No final do ano passado, saiu um relatório que tinha como objetivo calcular os danos econômicos gerados pelo aquecimento global. Ele afirmava que os gastos para combater o problema equivaleriam a cerca de 1% do PIB mundial, enquanto os prejuízos alcançariam 15 a 20%. Por que tão pouco é feito para combater o problema?
Schaefer: O que for feito nos próximos anos pouco ou nenhum impacto vai ter sobre a temperatura da terra na primeira metade deste século, mas vai fazer toda a diferença para a segunda metade e para o século seguinte. Se hoje não emitíssemos nada, ainda assim a temperatura do planeta continuaria a se elevar nos próximos 20, 30 anos. São poucos os governos que têm coragem de ter um gasto cuja receita não aparece no seu mandato.
JP: E o que é feito hoje é suficiente?
Schaefer: Não. O assunto está começando a tomar uma certa importância agora. Em junho, o G8 vai propor um programa bastante ambicioso de eficiência energética nos países mais ricos. Na semana passada, houve uma reunião do Lula com alguns ministros para criar uma força-tarefa para atacar as mudanças climáticas de maneira mais séria. Até agora, realmente não foi feito nada, mas está crescendo a pressão popular. Por convicção ou não, o fato é que nos vários setores da economia a situação está mudando.
JP: Serão necessárias novas tecnologias para lidar com o problema?
Schaefer: Na verdade, não. O que diminuirá a emissão de carbono será um conjunto de soluções, que a ciência já conhece. O problema é que, para isso, você entra em conflito com certos segmentos da economia.
JP: Serão necessárias adaptações para viver em uma Terra mais quente?
Schaefer: O próximo relatório do IPCC chama a atenção para o fato de que apenas mitigar - reduzir emissões - não resolve, mas é preciso começar a se adaptar. De fato, começam a ser feitas várias pesquisas nessa área. A Embrapa, por exemplo, está muito avançada no desenvolvimento de espécies vegetais que serão capazes de nascer e crescer em ambientes mais secos. De fato, a parte de adaptação é a que está mais atrasada. Mas, para se investir nisso, alguém precisava alertar sobre a gravidade do problema, para que a partir de agora esta questão passasse a ser uma prioridade.
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Edição 184