Formada em Publicidade pela PUC-Rio, Veronica gostava de atuar desde pequena, mas não levava a carreira a sério. A oportunidade no Comédia em Pé surgiu justamente pela falta de mulheres na área. Segundo ela, essa escassez, em especial no stand up, fez aumentar o interesse por apresentações de mulheres.
– É um ambiente masculino e eu tive que me masculinizar um pouco. Claro que já existia esse açougueiro preso dentro de mim, tentando sair, mas convivendo com os meninos as piadas são muito baixas, o bullying é muito forte. Não quero ficar na posição de ‘ah, eu sou menina, não brinca comigo!’, mas as mulheres passam por isso mesmo – afirma.
Espetáculos em que comediantes apresentam textos autorais Elas lutam contra os preconceitos e ganham vez no stand up sem auxílio de caracterização, cenários ou efeitos de som e luz começaram a se popularizar no Brasil nos meados dos anos 2000. Um movimento do estilo stand up se formou nessa época, originou grupos de comédia no Rio e em São Paulo e multiplicou as apresentações do gênero em teatros e bares.
Uma das primeiras mulheres que ficou conhecida por fazer humor de cara limpa no Brasil foi a paranaense Marcela Leal, que formou o Clube de Comédia, em São Paulo. A mais famosa a encarar o gênero é Dani Calabresa, atualmente no ar no CQC, da Band. A goianense Carol Zoccoli, que começou na carreira em 2007, acredita que o momento é favorável às mulheres.
– Eu vejo que as mulheres têm se interessado mais por comédia, vemos cada vez mais mulheres nos palcos. É um ambiente em que encontramos mais homens, mas não acho que seja um ambiente onde tenha mais o pensamento masculino do que qualquer outro na sociedade – ressalta.
No exterior, comédias centradas em mulheres vêm se tornando mais numerosas. Na TV, as séries Girls, New Girl e The Mindy Project têm autoras e protagonistas femininas. No cinema, atrizes como Tina Fey, Amy Poehler e Kristen Wiig continuam o movimento que eles começaram há alguns anos, quando trabalhavam no programa de humor Saturday Night Live.
No stand up, entretanto, a reação do público é imediata e nem sempre as piadas contadas por mulheres são as que mais fazem rir. Segundo Veronica, a comediante precisa ter muito mais cuidado que os companheiros de espetáculo ao abordar assuntos considerados mais “pesados”.
A professora do Departamento de Artes Cênicas Miriam Sutter explica que a comédia está ligada, desde a Grécia Antiga, a um aspecto mais animalesco do homem, que nem sempre se encaixa ao papel estabelecido culturalmente para a mulher.
– Enquanto a tragédia mostra o homem mais para a razão, o desejo sublimado pela razão ou pela dúvida, a comédia situa o homem no que ele tem de sua parte animal. A comédia tem esse lado: ela vai ridicularizar o lado que o homem não gosta de ver em si próprio – observa.
Apesar das barreiras culturais, Verônica tenta abordar questões sobre o preconceito contra a mulher e sobre a sexualidade na rotina de stand up que interpreta no Comédia em Pé, em um estilo parecido com o da comediante americana Whitney Cummings. E afirma que não tem vergonha nenhuma de falar o que pensa.
– Até hoje não acredito que faço stand up, sofro toda vez. Há de ser muito corajoso. Se a plateia não ri da sua piada, você tem que acostumar a ser rejeitado por 600 pessoas ao mesmo tempo, em público. É aquele pesadelo de estar pelado na frente dos outros. É muito ruim quando não riem da sua piada, mas em compensação quando riem é muito bom. Então, corajoso é quem faz com medo – garante.