Palco Revolucionário
05/03/2015 00:00
Aline Ripoli / Foto: Evandro Teixeira

Ao longo do século XX e no início do XXI, o Rio de Janeiro foi cenário de manifestações de grande peso político.

Em 1968, cem mil pessoas contra a ditadura

1904
Revolta da Vacina

Em meio à reforma urbanística e sanitarista de Pereira Passos, em 1904, explodiu a Revolta da Vacina. O Rio de Janeiro ainda mantinha características do período colonial e, consequentemente, graves problemas urbanos, como rede insuficiente de água e esgoto e cortiços superpovoados, um terreno fértil para doenças. Com o anúncio do projeto de regulamentação da Lei da Vacina Obrigatória, a cidade foi palco de violentos confrontos entre a população, que rejeitava a obrigatoriedade da vacina, e o Exército, a Marinha e o Corpo de Bombeiros.

 

1910
Revolta da Chibata

Liderados por João Cândido, os marinheiros planejaram um motim contra os castigos físicos impostos pela Marinha do Brasil. Os revoltosos tomaram o controle dos couraçados de Minas e de São Paulo, que estavam ancorados na Baía de Guanabara, enviaram um telegrama ao presidente com as reivindicações e apontaram os canhões para a cidade do Rio de Janeiro, ameaçando abrir fogo contra a Capital Federal. Para o professor de História Fernando Vieira, o movimento mostra a realidade política de uma época. “Para eles, o marinheiro ainda era um escravo, era uma lógica escravista”.

 

1922
Revolta dos 18 do Forte

Considerada a primeira mobilização do movimento Tenentista no país contra as oligarquias e o presidente Arthur Bernardes, a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana foi o início de um processo que culminou com a Revolução de 1930. Em 5 de julho de 1922, os rebeldes decidiram abandonar o Forte e marchar até o Palácio do Catete. Os 17 militares e um civil só conseguiram avançar pela Avenida Atlântica e logo encontraram as forças militares que defendiam o governo. Apenas dois saíram vivos do confronto: Siqueira Campos e Eduardo Gomes, que foram presos.

 

1964
Comício do Jango

Cerca de 250 mil pessoas, entre representantes de entidades sindicais, trabalhadores, estudantes e servidores públicos civis e militares, reuniram-se na Avenida Presidente Vargas, entre a Central do Brasil e o edifício do Ministério da Guerra, para participar do comício do presidente João Goulart. O Comício da Reforma foi transmitido ao vivo por rádio e TV para todo o país, e o objetivo era apoiar a decisão do governo de executar nacionalizações e expropriações. No palanque, representantes da esquerda brasileira, incluindo Luís Carlos Prestes, Miguel Arraes e Leonel Brizola. O ato acabou incentivando a queda do presidente João Goulart, pois provocou a mobilização de setores conservadores por um golpe.

 

1968
Passeata dos 100 mil

Durante a ditadura militar, a cidade foi palco de manifestações após a morte do secundarista Edson Luís de Lima Souto, de 18 anos, no restaurante universitário Calabouço. A mais importante, a Passeata dos 100 mil, reuniu, em junho de 1968, estudantes, artistas, intelectuais, políticos e outros segmentos da sociedade civil brasileira. O mais importante protesto contra a ditadura militar, até então, começou a partir de um ato político na Cinelândia e ocupou as ruas do centro do Rio. De acordo com o cientista político Ricardo Ismael, professor do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio, já existia um sentimento de que os militares não sairiam do poder, mas ainda havia certo espaço para manifestações. Logo depois foi decretado o Ato Institucional nº 5 (AI-5).

 

1983
Diretas Já

A campanha nacional de apoio à emenda constitucional, proposta por Dante de Oliveira, que previa o restabelecimento das eleições diretas para a Presidência, foi lançada em 1983 com o slogan que ganharia as ruas: Diretas Já. O movimento conquistou uma massa crítica que reuniu condições para se mobilizar abertamente. No Rio, o Comício da Candelária reuniu um milhão de pessoas, a maior concentração política da história da cidade. Para o cientista político Ricardo Ismael, professor do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio, o Diretas Já se transformou em um processo popular. “O povo já percebia que, além da insatisfação com o regime militar, falta de liberdade política e censura, não havia ganho econômico, o Brasil entrava numa crise profunda. No início dos anos 80, o país crescia muito pouco e a infl ação começou a crescer”.

1992
Os Caras Pintadas

No dia 21 de agosto de 1992, cerca de 100 mil pessoas, com os rostos pintados nas cores verde e amarela, assim como índios preparados para a guerra, formaram um passeata na Avenida Rio Branco, no Centro do Rio. Foi o ápice de um movimento iniciado pelos estudantes, chamado de Caras Pintadas, que pedia o impeachment do então presidente Fernando Collor, envolvido em escândalos de corrupção. A oposição se uniu: PT, PSDB e até setores do PMDB - no movimento Fora Collor, que causou a renúncia do presidente. Para o professor Ricardo Ismael, havia uma expectativa de que aquele momento seria um divisor de águas para o tema corrupção.

2013
Manifestações de Junho

Em junho de 2013, liderados pelo Movimento Passe Livre, estudantes saíram às ruas para protestar contra o aumento na tarifa de ônibus na cidade do Rio. A ação ganhou apoio popular, principalmente depois da forte repreensão policial contra os manifestantes, e avançou para outras cidades. No dia 20 de junho, cerca de um milhão de pessoas tomaram às ruas em 25 capitais do país. O Rio de Janeiro foi a capital com maior número de pessoas: 300 mil. Os protestos, marcados por embates com policiais e pessoas feridas, se espalhavam pelas principais avenidas do centro da cidade: Rio Branco e Presidente Vargas.

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