Quem anda pelas ruas do Rio de Janeiro provavelmente já se deparou com os grafites do americano radicado no Brasil Alberto Serrano, mais conhecido como Tito, que apresentam o protagonista Zé Ninguém e contam uma história não-linear por diversos cantos da cidade. Por meio de uma parceria entre os departamentos de Letras e de Artes & Design, Tito esteve na PUC-Rio, no dia 21 de maio, para contar sua trajetória e debater sobre grafite e arte de rua. A iniciativa surgiu em um momento oportuno: no começo do ano, Zé Ninguém ganhou linearidade e virou livro pela Edições de Janeiro com o apoio da Prefeitura.
Quando chegou ao Brasil em dezembro de 2001, motivado pelos atentados de 11 de setembro e pelo relacionamento com a brasileira Flavia Oliveira, com quem trabalhava em Nova York, Tito foi apresentado ao grafite carioca por um amigo. Mas, apesar de participar e gostar daquela estética, ele não sentiu que seu trabalho fazia parte do diálogo urbano. Foi então que surgiu, em 2008, Zé Ninguém, inspirado no pai de Tito, porto-riquenho que andava de chinelo e short pelas ruas do Bronx, em Nova York, onde ficava totalmente à margem da cultura local. No Brasil, o artista percebeu que muitos eram daquele jeito e, portanto, seriam uma boa influência para criar uma história em quadrinhos.
Zé Ninguém, um professor que perdeu a memória, está presente em mais de 200 artes espalhadas pela cidade, das quais 150 foram compiladas e inseridas no livro. Tito busca, por meio das ilustrações, criar uma relação entre a arte e o espaço urbano. Zé se mistura ao cotidiano do carioca, mas não se limita apenas ao Rio: ele também pode ser visto em muros de Londres, Nova York e São Francisco. Com relação à personalidade do personagem, Tito explicou que passa uma mensagem para o brasileiro. Zé Ninguém é, acima de tudo, um otimista.
- Apesar da situação na rua, ele tenta ver as coisas do lado positivo, tenta lidar com as dificuldades e achar jeitos de contornar essas situações.
Tito ressaltou que a internet, os celulares e as mídias sociais exercem papel fundamental para a disseminação da arte de rua. Ele lembrou que o burburinho em torno de Zé Ninguém começou ainda nos tempos do Orkut, quando criaram uma comunidade para o personagem. Sobre a originalidade da obra, o artista comentou que o que ele faz não é totalmente inovador, e sim uma volta a um passado distante, mas adaptado aos tempos atuais.
- É uma linguagem diferente, mas também não é. O que eu fiz foi levar os quadrinhos e o grafite para a sua origem, que era o homem das cavernas escrevendo na parede que matou um búfalo. É uma história que ele grafitou na parede, então eu estou voltando para ela, mas com os recursos que temos hoje, como o spray, a divulgação da internet e o livro impresso.