Jean-Paul Sartre e a filosofia
14/09/2015 17:25
Aline Rípoli

Professor Danilo Marcondes abre ciclo de palestras do colóquio Três Franceses e uma Alemã, no Centro Cultura Banco do Brasil (CCBB)

Jean-Paul Sartre como porta de entrada para a filosofia. Foi partindo deste pensamento que o coordenador da Central de Internacionalização da PUC-Rio, professor Danilo Marcondes, do Departamento de Filosofia, iniciou sua participação no colóquio Três Franceses e uma Alemã, ciclo de encontros no Centro Cultura Banco do Brasil (CCBB) promovido pelo Ministério da Cultura e Banco do Brasil. A palestra teve também a participação do presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Renato Lessa, e dos curadores Gustavo Chataigneir e Clarisse Fulkman, professores do Departamento de Comunicação Social.

Marcondes narrou o encontro com a obra do filósofo francês em dois tempos da vida. O primeiro quando ainda era um estudante, onde percebeu que sua busca não era literária, mas que procurava questões filosóficas na literatura. Seguiu o caminho que Sartre de alguma forma apontou e passou da literatura para a filosofia. E o segundo momento trata de sua experiência como professor no Ensino Médio. Após concluir o doutorado em filosofia da linguagem, o acadêmico recorreu ao Existencialismo de Sartre para introduzir os adolescentes à filosofia. De acordo com ele, Sartre oferece a vantagem diante de outros filósofos de tornar filosofia um bem acessível.

- São vários os filósofos que são porta de entrada para a filosofia, mas eles dialogam entre si, eles pressupõem outros filósofos, o que pressupõe outros conhecimentos de filosofia. O Sartre não, ele lança questões, é um filósofo que nos permite entrar na filosofia. É um autor que abre a porta da filosofia, uma porta muito fácil de abrir mão que, mesmo aberta, nem sempre a gente passa por ela, e quando passa por ela, nem sempre a gente chega onde quer chegar.

As obras A náusea e Entre quatro paredes, consideradas por Marcondes referências inevitáveis do pensador francês, abordam importantes momentos existenciais. A primeira, trata da radicalidade da experiência humana, quando o personagem se transforma ao deparar-se com algo absolutamente inédito. A segunda, marcada pelo Existencialismo, é conhecida pela frase O inferno são os outros, do personagem Garcin. Contudo, o clássico elegido para análise foi O idiota da família, no qual Sartre toma Gustave Flaubert, autor de Madame Bovary, como grande estudo de caso do que chama de projeto existencial. Segundo o professor, o pensador vê Flaubert como exemplo de transformação, como um projeto de si mesmo e de alcançar o que diz na frase somos aquilo que fazemos e o que fazem de nós.

- Todos nós somos projetos, e todos nós temos que ter a força, temos que ter a decisão de assumirmos o nosso projeto. O nosso projeto enquanto singulares que se tornarão universais. Flaubert foi esse que foi feito dele um idiota e ele se transformou num gênio. É então o exemplo por excelência do caso existencial. Da possibilidade de mudarmos isso que não é fixo, que não tem essência, que é o ser humano. Para a família dele, sua essência era um idiota, um retardado. E ele se transforma em um grande escritor, em um gênio. Nós não somos nem idiotas, nem gênios, nós somos aquilo que fazemos e aquilo que fazem de nós.

Para aprofundar a pesquisa, Sartre analisou 13 volumes de correspondência de Flaubert, e garimpou uma importante passagem. De acordo com Marcondes, é esse o ponto que o pensador francês busca para fundamentar o projeto existencial.

- Flaubert diz sobre si mesmo: É pela força do trabalho que consigo fazer calar minha melancolia nativa. Mas o velho fundo reaparece com frequência. O velho fundo que ninguém conhece, a praia profunda sempre oculta. Sartre quer chegar nessa praia profunda. Essa inesgotável análise, que reconstrói o contexto, toda a questão da construção da vida familiar de Flaubert, em que Sartre se engaja por anos e anos seguidos, é, em última análise, fadada ao insucesso. Mas o próprio Sartre já disse “o homem é uma paixão inútil”. Então, essa inutilidade não é levada como derrota nem fracasso: é o que tem que ser.

Sobre o conflito de Sartre entre conhecer tão bem Flaubert e o pensamento de que é impossível conhecer o ser humano, Marcondes diz que o pensador francês aprofundou a análise a fim de expor suas ideias. Para ele, não bastava somente dizer, era necessário exemplificar e tornar claro que o ser humano é infinito.

- O ser humano tem uma essência, o ser humano é existência, mas ele tinha que mostrar isso através desse caso exemplar que é o Flaubert, analisando tudo, desde a vida de Flaubert, as obras, a correspondência, para mostrar isso, que o ser humano é inesgotável, não é possível conhecer. Mas é preciso fazer um exercício do conhecimento para chegar à conclusão de que não é possível conhecer.

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