Há um colapso de identificação dos cidadãos com os partidos políticos brasileiros. A afirmativa é do professor Timothy Power, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, que discursou sobre a institucionalização desigual do sistema partidário brasileiro e a conjuntura política do país, no dia 25 de setembro, na sala 102-K, do Edifício Amizade.
Segundo o professor, uma das causas do colapso é a diminuição da identificação dos brasileiros ao Partido dos Trabalhadores (PT), que foi o partido com maior identificação entre os cidadãos até 2011. No entanto, ele avalia que, a partir de 2011, há uma contínua diminuição de representatividade dos brasileiros com o PT e com os outros partidos de um modo geral. Timothy Power disse ainda que essa situação caminha no sentido contrário aos avanços institucionais que o Brasil obteve ao longo dos anos, como a estabilização econômica, a Lei dos Partidos que regulamenta a atividade dos partidos brasileiros.
- A estagnação da representatividade partidária não condiz com os avanços institucionais do sistema político brasileiro. Pelo PT ter o maior número de identificação, o número geral oscila de acordo com os seus números. Uma das causas para a falta de representatividade é a corrupção partidária, que é mais tendencial nos países cuja democracia é uma democracia presidencialista. A “lua de mel” entre a população e a recente reeleição da presidente Dilma durou poucos meses porque, logo depois, houve uma série de denúncias que começaram a corroer o governo – analisa.
Timothy Power observou ainda sobre a mudança ideológica dos partidos brasileiros. Ele deu como exemplo o Partido Popular Socialista (PPS), que, segundo ele, foi o que mais mudou de posição ideológica: nasceu no germe do pensamento socialista brasileiro, na década de 90, e atualmente apresenta um pensamento intelectual centro-direita. Em contrapartida, disse, o PFL/DEM é o partido que mais preservou as posições ideológicas.
- Os partidos brasileiros, muito em função de um presidencialismo de coalizão, caminham por diversos espectros ideológicos. O PPS, que no início foi um partido essencialmente de esquerda, hoje já não está mais assim. O PT, que ocupou um protagonismo nos partidos de esquerda, hoje também já não é visto, por muitas correntes intelectuais, como um partido de esquerda.
O professor denominou as recentes disputas eleitoras entre o PT e o PSDB como disputas de bicoalização. Ele analisa que há uma fragmentação partidária exposta em dois partidos presidenciáveis.
- É um fenômeno que não se vê em outra democracia presidencialista. É uma minoria permanente que, olhada com a lupa, angaria diversos outros partidos que não necessariamente concordam com a posição ideológica do partido presidenciável – observou.