Profissionais que normalmente cuidam de como deve estar a imagem na película, seu enquadramento e principalmente iluminação, se portaram muito bem como protagonistas diante dela. Cento e dez cinematographers foram entrevistados pelo americano Jon Fauer, que queria investigar a relação entre estilos, técnicas e tecnologias de cada um, e como um influencia o outro. Fauer esteve no Brasil, exibindo o resultado de três anos de filmagem e edição de Cinematographer Style (2006), em três ocasiões, no Rio de Janeiro – Cine Odeon e PUC – e em São Paulo – Cinemateca Brasileira –, em evento organizado pela Associação Brasileira de Cinematografia (ABC) e pelo Departamento de Comunicação da PUC-Rio.
Sem poder ser traduzida de maneira exata, a profissão é descrita pelos brasileiros como direção de fotografia no cinema, apesar de existirem grandes discussões sobre a terminologia. O documentário intercala declarações dos entrevistados, que sempre aparecem sentados, com o mesmo enquadramento, em planos médios e closes, e variações eventuais na iluminação. Utilizando como fio condutor os diretores Vittorio Storaro, fotógrafo que trabalhou com Bernardo Bertolucci em, por exemplo, O Último Tango em Paris (1972), e Gordon Willis, que fez a trilogia O Poderoso Chefão (1972, 1974 e 1990), Fauer criou começo, meio e fim para o longa-metragem, como explicou.
"Um filme muito específico, para quem realmente quer trabalhar com fotografia e cinema", foi o comentário geral das platéias do Cine Odeon e do auditório do RDC, nos dias 2 e 3 de abril. No debate realizado após a exibição na Universidade, o cineasta Marcelo Taranto, professor das disciplinas Direção de Fotografia e Projeto de Filme, e quem fez a ponte entre as instituições e o diretor, mediou a discussão entre Fauer, Edgar Moura, diretor de fotografia brasileiro, e Roberto Faissal, diretor de fotografia e também especialista em filmagem submarina. Cada palestrante falou de suas experiências, sobre a importância de saber utilizar a luz e, principalmente, como servir-se da sombra.
– Quem aprende na prática, aprende com lacunas. Se começa como assistente de fotografia, não presta muita atenção na luz, já que se prende muito à cena... Sobretudo na prática científica, óptica. Se você não faz essa preparação antes, vai te faltar muito depois, comentou Edgar Moura.
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Nenhum brasileiro aparece durante os 90 minutos do documentário, e isto não por falta de capacidade, mas por falta de oportunidade, desculpou-se Fauer, mais de uma vez, brincando que esperava, no Cinematographer Style II, ouvir algum futuro cinematographer da platéia.
O que Edgar Moura e Roberto Faissal teriam a dizer se estivessem entre os 110 entrevistados?
O termo cinegrafista me atrai, ser aquele capaz de construir, até sozinho, o movimento, com uma estrutura totalmente diferente do que a gente conhece nas produções de longa-metragem e comercial, que necessitam de toda uma equipe em volta da luz. Talvez eu me identifique com o termo pelo meu trabalho de cinegrafista subaquático, por ficar muito sozinho, ter que escolher onde ponho a câmera e a imagem. Escolher os movimentos é o primeiro passo, principalmente debaixo d’água."
O que eles mais falam em Cinematographer Style é sobre estilo, como uma questão de linguagem. Tenho a impressão de que não existe isso: as fotografias são muito parecidas, chegou-se a um Anível técnico e de conhecimento em que todos usam o mesmo tipo de luz, fonte, fazem o mesmo tipo de fotografia. Sei que é um exagero, cada fotógrafo sabe como a luz funciona e tenta inovar, mas as soluções estão ficando cada vez mais parecidas."
Edição 185