Filme revela os estilos fotográficos do cinema
19/04/2007 17:50
Clarice Tenório / Fotos: Carolina Jardim

Cinematographer Style (2006), do americano Jon Fauer, apresenta declarações de 110 diretores de fotografia do cinema, sobre as técnicas e variações de estilo na profissão.

Profissionais que normalmente cuidam de como deve estar a imagem na película, seu enquadramento e principalmente iluminação, se portaram muito bem como protagonistas diante dela. Cento e dez cinematographers foram entrevistados pelo americano Jon Fauer, que queria investigar a relação entre estilos, técnicas e tecnologias de cada um, e como um influencia o outro. Fauer esteve no Brasil, exibindo o resultado de três anos de filmagem e edição de Cinematographer Style (2006), em três ocasiões, no Rio de Janeiro – Cine Odeon e PUC – e em São Paulo – Cinemateca Brasileira –, em evento organizado pela Associação Brasileira de Cinematografia (ABC) e pelo Departamento de Comunicação da PUC-Rio.

Sem poder ser traduzida de maneira exata, a profissão é descrita pelos brasileiros como direção de fotografia no cinema, apesar de existirem grandes discussões sobre a terminologia. O documentário intercala declarações dos entrevistados, que sempre aparecem sentados, com o mesmo enquadramento, em planos médios e closes, e variações eventuais na iluminação. Utilizando como fio condutor os diretores Vittorio Storaro, fotógrafo que trabalhou com Bernardo Bertolucci em, por exemplo, O Último Tango em Paris (1972), e Gordon Willis, que fez a trilogia O Poderoso Chefão (1972, 1974 e 1990), Fauer criou começo, meio e fim para o longa-metragem, como explicou.

"Um filme muito específico, para quem realmente quer trabalhar com fotografia e cinema", foi o comentário geral das platéias do Cine Odeon e do auditório do RDC, nos dias 2 e 3 de abril. No debate realizado após a exibição na Universidade, o cineasta Marcelo Taranto, professor das disciplinas Direção de Fotografia e Projeto de Filme, e quem fez a ponte entre as instituições e o diretor, mediou a discussão entre Fauer, Edgar Moura, diretor de fotografia brasileiro, e Roberto Faissal, diretor de fotografia e também especialista em filmagem submarina. Cada palestrante falou de suas experiências, sobre a importância de saber utilizar a luz e, principalmente, como servir-se da sombra.

– Quem aprende na prática, aprende com lacunas. Se começa como assistente de fotografia, não presta muita atenção na luz, já que se prende muito à cena... Sobretudo na prática científica, óptica. Se você não faz essa preparação antes, vai te faltar muito depois, comentou Edgar Moura.

-------------------------

Nenhum brasileiro aparece durante os 90 minutos do documentário, e isto não por falta de capacidade, mas por falta de oportunidade, desculpou-se Fauer, mais de uma vez, brincando que esperava, no Cinematographer Style II, ouvir algum futuro cinematographer da platéia.
O que Edgar Moura e Roberto Faissal teriam a dizer se estivessem entre os 110 entrevistados?

Roberto Faissal é Vice-Presidente da Associação Brasileira de Cinematografia (ABC), cinegrafista e especialista em filmagem submarina. "Eu fotografava imagens submarinas e tive a vontade de fazer um filme sobre corais, nos anos 80; daí surgiu a profissão no cinema. Comecei com documentários, individualmente. Hoje, já experimentei trabalhar em grandes equipes, em filmes de Holywood.
O termo cinegrafista me atrai, ser aquele capaz de construir, até sozinho, o movimento, com uma estrutura totalmente diferente do que a gente conhece nas produções de longa-metragem e comercial, que necessitam de toda uma equipe em volta da luz. Talvez eu me identifique com o termo pelo meu trabalho de cinegrafista subaquático, por ficar muito sozinho, ter que escolher onde ponho a câmera e a imagem. Escolher os movimentos é o primeiro passo, principalmente debaixo d’água."

 

Edgar Moura é diretor de fotografia e autor de livros sobre o tema, como Luz, Câmera e Ação (Senac Editora, 1999). "Resolvi que queria fazer fotografia e fui ser fotógrafo de jornal, profissão muito ativa na época, por questões políticas, mesmo motivo que acabou fechando A Última Hora. Fui parar em uma escola gratuita na Bélgica. Depois que você começa, surgem galhos e oportunidades para todos os lados. Você pode fazer uma belíssima fotografia em um filme ruim, ninguém vai notar, mas você faz uma boa fotografia em um filme bom, vai todo mundo junto.
O que eles mais falam em Cinematographer Style é sobre estilo, como uma questão de linguagem. Tenho a impressão de que não existe isso: as fotografias são muito parecidas, chegou-se a um Anível técnico e de conhecimento em que todos usam o mesmo tipo de luz, fonte, fazem o mesmo tipo de fotografia. Sei que é um exagero, cada fotógrafo sabe como a luz funciona e tenta inovar, mas as soluções estão ficando cada vez mais parecidas."

 

Edição 185