Alegria no Dia dos Mortos
04/11/2015 11:48
Eduardo Manhães / Foto: Weiler Filho

Altar típico da celebração mexicana foi montada no campus

Sorrisos e alegria marcam a comemoração do Dia dos Mortos no México. Diferente da maioria dos países, os mexicanos realizam festas, utilizam muitas cores e constroem altares para os parentes e amigos queridos que já morreram. Para manter a tradição, a aluna mexicana de pós-doutorado do Departamento de Georgrafia Adi Lazos montou um altar típico do país em frente à sala Milton Santos, próximo ao bicicletário, no dia 3 de novembro.

Motivada pelo desejo de compartilhar a cultura do país natal e manter a tradição, mesmo em terras brasileiras, Adi propôs a ideia ao orientador dela, o professor do Departamento de Geografia Rogério Oliveira. Segundo José Luis Cervantes, psicólogo mexicano e amigo de Adi, o costume surgiu antes da chegada dos espanhóis ao México, porém, com a colonização, a tradição passou por algumas mudanças, a visão católica foi implementada e os símbolos se misturaram, como a inserção de figuras de santos e cruz nos altares.

Apesar dos altares variarem, eles possuem muitos objetos simbólicos, como o Cempasúchil, uma flor amarela nativa do México que tem a função de guiar os defuntos; o chocolate, que representa dinheiro e já funcionou como moeda no país; o pão de morto, oferenda para os falecidos, cuja fabricação é específico para cada região do país; o arco, que significa a passagem permeável entre o mundo dos vivos e dos mortos; a abóbora e o aipim são exemplos de oferendas muito presentes, além da bebida alcoólica, como a tequila. Já as velas simbolizam lanternas para conduzir os defuntos.

O artesanato mexicano é caracterizado pelas cores e está presente nas caveiras típicas do feriado de 2 de novembro. Elas podem ser feitas de cerâmica, açúcar e amaranto, uma semente semelhante à quinoa. A idealizadora do altar da PUC explica que os crânios representam a morte, e o costume de utilizá-los nas celebrações é antigo.

- Todas as caveiras simbolizam morte. É um costume muito antigo no México, quando os povos matavam os inimigos, guardavam os crânios e os colocavam na porta de entrada de cidades e templos. A caveira representa sempre uma dualidade: morte e vida. Essa é a maneira de ver dos antigos mexicanos.

O altar contém conceitos dos quatro elementos: água, fogo, terra e ar. A água por meio da bebida alcoólica ou de um copo com água, o fogo por meio das várias velas distribuídas pelo altar, a terra pelas flores de Cempasúchil e o ar pelos papéis coloridos e recortados em diferentes formatos, também símbolo da alegria.

Adi Lazos explica ainda que outros elementos presentes nos altares são os cachorros da raça Xoloitzcuintle, feitos de cerâmica, pois se crê que eles guiavam e acompanhavam os mortos para o lugar de descanso, chamados pelos mexicanos de Mitclán. Outro objeto significativo é a esquelética boneca Catrina, criada por um gravurista e cartunista mexicano que buscava, por meio da arte criticar, as condições sociais do país.

- Catrina é um símbolo da morte, um esqueleto muito elegante, geralmente, uma mulher. A versão masculina se chama Catrin. O conceito de Catrina foi inventado por José Guadalupe Posada. O artista representava uma crítica social, sua intenção era dizer que seja pobre ou rico, todos vão morrer. Essa tradição está sempre questionando e criticando a estrutura social – observa Adi.

Segundo a doutoranda, a morte é dividida por níveis, e de acordo com a causa do óbito de cada pessoa, a alma poderá ir para lugares diferentes. Ela explica que o sol seria o nível máximo que se pode alcançar devido a força vital, por isso, se um guerreiro morresse durante uma batalha ou uma mulher no momento do parto, eles iriam diretamente para o sol. Caso a morte fosse por afogamento, o Tlalocan era o lugar, pois é o reino do Tlaloc, o deus da água. Já as crianças vão para um lugar especial, onde há uma árvore que frutifica seios para amamentá-los. As mortes naturais têm o Mitclán como lugar.

Os altares têm, além do simbolismo, o sincretismo, já que misturam diferentes crenças. No México, o dia 1º de novembro é dedicado às crianças e o dia 2 de novembro aos adultos. No fim da celebração, todos os alimentos são compartilhados em comunidade.

A diversidade cultural no Dia de Finados também é presente em outros países como a Guatemala, onde são colocadas pipas no ar para representar as pessoas que já morreram, ou o Haiti, onde são tocados tambores próximo aos cemitérios para despertar o deus dos mortos.

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