O respeito pelas diferenças e valores do outro foi um dos assuntos discutidos no segundo dia do seminário A Igreja e a Sinagoga em Diálogo – 50 anos da Declaração Nostra Aetate, no dia 11 de novembro, no auditório do CTC. O tema da primeira conferência foi o diálogo judaico-cristão, que teve como palestrante a professora Maria Teresa Cardoso, do Departamento de Teologia da Universidade.
A professora abordou a relação entre judeus e católicos com base no livro do Papa Francisco com o Rabino Skorka, Sobre o Céu e a Terra. Segundo ela, para que seja colocado em prática o que foi pregado pelo documento Nostra Aetate é preciso uma palavra significativa contra o antissemitismo.
- Para continuar a construir hoje o espirito da Nostra Aetate, cabe aos católicos dizer sim às raízes judaicas da fé cristã, às revelações de Deus, e ambas dizerem sim à riqueza espiritual viva das respectivas religiões, com justa apreciação humana e religiosa, e não aos preconceitos. É preciso respeitar as relações em vista de um futuro fraterno e responsável, com novas atitudes.
Maria Teresa disse ainda que há diversos documentos das duas religiões que propõem a troca de experiência, o compartilhamento das escrituras e conclamam a colaboração pela paz. A palestrante afirmou que é importante que haja o diálogo humano e que as duas partes – tanto cristãos como judeus – reconheçam as suas diferenças. O fundamental, apontou, é respeitar os valores de cada uma e encontrar questões em comum.
- Pontos como a ajuda humanitária é de concordância de ambos, e são nessas questões que as pessoas devem se embasar.
Para a professora, o diálogo nasce de uma atitude de respeito entre as pessoas, do convencimento de que o próximo tem opiniões e propostas relevantes. Segundo Teresa, é pôr em prática a crença com humildade, o que traz ganhos para os dois lados. Para a professora, viver atualmente a Nostra Aetate é compartilhar conhecimento e experiência com respeito.
- Devemos reconhecer os princípios e procurar reproduzir seus passos de reconhecimento mútuo e estima, de desenvolvimento das questões teológicas, da leitura da escritura compartilhada nas pequenas riquezas e tradições e de cuidados pastorais. Somos chamados a aprofundar o diálogo e amizade, que podem ser uma bênção para as pessoas e sinal de abertura dos corações.
Nostra Aetate é um dos documentos do Concílio Vaticano II, que trata das relações da Igreja Católica com as religiões não-cristãs. De acordo com o texto, respeito, estima e troca de experiência são importantes para que haja um convívio pacífico e de mútuo aprendizado entre as pessoas.
A conselheira Diane Kuperman, da Associação Religiosa Israelita do Rio de Janeiro, proferiu a segunda conferência da manhã. Segundo ela, há quatro alicerces para a formação do diálogo: a existência de dois interlocutores aptos a ouvir, a boa-fé dos interlocutores, o respeito mútuo entre as partes envolvidas e o desejo de construir algo em comum.
- É a hora de trocar e aprofundar esse diálogo. Aproveitar esse momento para fazer um balanço honesto e real dessa caminhada de 50 anos de Nostra Aetate. O diálogo surge basicamente para eliminar preconceitos. O mundo está cheio de preconceitos e ódio. O diálogo vai mudar isso, e, ao eliminar os preconceitos, incentiva uma cultura de paz. Esta põe em prática o amor pregado tanto por judeus quanto por cristãos.
A palestrante comentou ainda sobre o encontro de 1947 do então recém-formado Conselho Internacional de Judeus e Cristãos (CIJJ), em que 65 judeus e cristãos de 19 países se reuniram em Seelinsberg, Suíça, para discutir a relação das duas religiões. Na ocasião, cristãos elaboraram dez pontos sobre o diálogo com os judeus. Em 2009, no reencontro do CIJJ, em Berlim, Alemanha, foram pensados doze pontos. Segundo Diane, alguns desses pontos foram renovados, como a afirmação da ligação entre as duas religiões e a herança judaica da Igreja Católica, e outros foram criados, como a importância da formação comunitária como parte da identidade judaica.
Na opinião da conselheira, os encontros foram benéficos para promover o diálogo, mas, ainda assim, falta um longo caminho a percorrer para a criação do respeito plenos. O diálogo deve crescer e incluir todas as crenças.
- Falta dar visibilidade para outras religiões que não a judaica. Eu, como judia, não vou me sentir amparada e respeitada se minha amiga xiita não tiver voz, participação.