O Centro Loyola de Fé e Cultura recebeu moção honrosa na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, na Cinelândia, Centro, ao lado do aluno do 4º período de Cinema da PUC-Rio Pedro Nascimento, 21 anos, e do integrante do Coletivo Enegrecer e da Pastoral Universitária Walmyr Junior. A cerimônia foi realizada no dia 27 de novembro, e foi em homenagem ao dia 12 de novembro, data que comemora a existência do Movimento Cultural hip hop no mundo.
Celebridades do universo do rap e hip hop, como Gerson King Combo, Don Filó, Sir Dema e Marcelo Yuka estiveram presentes na solenidade, na qual houve entrega de moções a pessoas e grupos importantes para a história do estilo musical na cidade. A solenidade foi organizada pelo vereador João Mendes de Jesus (PRB).
O Centro Loyola foi homenageado por causa das atividades comunitárias que realiza, em especial o curso Cinema: criação e pensamento para jovens e adultos das favelas, uma realização do Núcleo de Comunicação Comunitária do Projeto Comunicar, com o apoio do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, do seu Programa de Pós-Graduação.
Aluno do curso desde o início deste ano, Zulu Tr contou sobre a importância da atividade para a inclusão social dos moradores de favelas. Segundo ele, o programa de aulas permite que os alunos “viajem” até os primórdios do cinema, e que faz com que eles possam compreender o quanto é permitido enxergar a própria realidade por meio da tela. Ele afirma que, só neste ano, mais de 30 alunos ingressaram no curso, todos ligados ao hip hop e residentes de favelas.
– O Loyola demonstrou que a sétima arte está muito mais próximo do olhar humano como se imagina. Em seu programa de aula, que nos permite viajar até os primórdios do cinema, passamos a compreender o quanto nos é permitido enxergar nossas vidas pelo reflexo da tela. Talvez seja esta a razão principal que permitiu a nós, moradores de favelas do Rio, esta identificação com a proposta desse extensivo universitário de cinema. Entendermos que o cinema é e pode ser um veículo de transformação social em nosso meio de vida, por estar aberto a todos, independentemente de cultura, credo, raça ou posição social.
Mais conhecido no mundo do rap e hip hop como Pedrinho Drimpê, Pedro Nascimento recebeu a homenagem por causa da Batalha de MCs que organiza na Universidade. O rapper afirma que o reconhecimento é importante não só para ele, mas para o movimento do qual faz parte. Drimpê disse que a Batalha dá a oportunidade de conectar pessoas de fora da Instituição com as de dentro.
– Acho que é de uma importância enorme que o rap esteja na universidade e em qualquer instituição de ensino. Além de ser uma fonte de informação e liberdade de expressão, é possível se educar através dele. Na PUC, também é um elemento de desconstrução. É um encontro que une a favela com o asfalto; a galera da Rocinha sempre vai. O mais legal é juntar diferentes classes sociais, no mesmo ambiente, onde todos podem concordar e discordar sobre os mesmos assuntos, em busca de soluções para os problemas atuais da sociedade.
Walmyr Junior, que também escreve na coluna Juventude de Fé, do Jornal do Brasil, representa o Coletivo Enegrecer no Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE) e recebeu a moção. Na fala que deu início à solenidade, ele enfatizou a importância da transformação que a juventude periférica vem sofrendo nos últimos anos pela cultura e da educação.
Para ele, a juventude da favela vive em situação marginalizada, por conta do racismo institucionalizado. Morador do Conjunto Marcílio Dias, no Complexo da Maré, Walmyr conta que o Hip Hop é uma ferramenta de transformação da sociedade.
– Não tem como pensar na realidade da vida da juventude, hoje, sem pensar em uma política atrelada a educação e cultura. O movimento hip hop vem ensinando à sociedade, a cada dia, que ele não só transforma a realidade do jovem, mas também a realidade territorial.
Segundo Walmyr, é importante perceber qual é o impacto social que o estilo gera na vida das pessoas, na comunicação e na coletividade. Para o jovem, o hip hop proporciona uma narrativa que vai da favela para o asfalto e vice-versa, em uma tentativa de busca pela democracia, pela paz e pela igualdade.
– Pensar nessa possibilidade de receber uma moção pelo hip hop é ter a certeza que essa ferramenta de transformação social não é só representatividade do movimento de cultura, mas sim uma filosofia de vida, que vem mudando perspectivas.
A mesa de oradores foi composta por Walmyr Junior, pelo DJ Zulu Tr, pelo ex-ministro da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Edson Santos e pelo idealizador da Festa Literária das Periferias (Flupp), Ecio Salles.