Desafios de pensar a ética contemporânea
04/04/2016 16:47
Julia Novaes/foto: JP de Araujo

Para Osorio, mudanças de paradigmas alteram a percepção da realidade

Professor ressalta que o papel da arte é liberar maneiras de perceber as realidades que não estão definidas

Pensar, continuamente, pensar. O mundo contemporâneo, com tantas mudanças de paradigmas, criou a necessidade de revisão constante das maneiras de se orientar. Os fatos não se encaixam mais em categorias de pensamento arcaicas, criando impasses éticos. É assim que o novo diretor do Departamento de Filosofia, professor Luiz Camillo Osorio, caracteriza os tempos atuais.

Para resolver esses impasses éticos, Osorio afirma que é preciso descobrir novas formas de percepção da realidade. Ele enfatiza que o ato de pensar é essencial e explica como a arte e a filosofia oferecem novas formas de ver a Ética.

– A Hannah Arendt (filósofa alemã, de origem judaica), por exemplo, precisou criar um novo conceito, que chamou de banalidade do mal, para explicar uma conduta que a noção convencional não dava conta. Isso implica lidar com o fato na sua singularidade, e não na adequação a uma convenção que não dá mais conta – afirma.

A filosofia, segundo ele, tem papel central na produção dessas novas perspectivas. Com relação à ética, por exemplo, o professor diz que a ciência tem dois caminhos de análise.

– Existe a disciplina filosofia, sua história, que é uma maneira de tratar as questões éticas. Há o exemplo de Kant (Imannuel Kant, filósofo) e seu imperativo categórico, que determina que a minha ação tem que ser universalizável – eu não posso agir de tal maneira que essa ação não possa ser feita por qualquer um. Podemos discutir esses exemplos à luz do presente. A filosofia pode ajudar as pessoas a pensarem fazendo esse painel histórico.

Segundo ele, a filosofia é como um exercício de pensamento cotidiano. Essa seria a atividade reflexiva que é, ou deveria ser, realizada por todos antes de agir.

– Acho que o papel da filosofia é fazer com que o parar para pensar seja uma exigência constante.

De acordo com Osorio, a arte também pode contribuir para a discussão ética. Ele considera que, quando o pintor e escultor francês Marcel Duchamp levou um mictório para dentro de uma exposição, houve uma ruptura no conceito de dimensão artística individual. A arte não estaria mais restrita a um conjunto de habilidades técnicas, mas ao fazer pensar. Qualquer um teria, assim, o potencial de ser criativo.

– Entramos em uma discussão ética. Todos estão aptos a criar um modo de vida adequado ao seu desejo e, ao mesmo tempo, esse desejo deve ser compatível com o desejo dos outros. Essa potencialidade criativa tornou-se um paradigma para a própria ética.

O professor comenta que, além da invenção existencial, a arte pode também criar novas formas de percepção da realidade.

– A arte promove discussão, vai na direção de um acordo ou desacordo, o que sempre libera novas formas de percepção. Eu acho que esse é o papel da arte, liberar maneiras de perceber a realidade que não estão categorizadas, pré-definidas.

Osorio ressalta ainda a importância de formar “cidadãos responsáveis com visão alargada do mundo”, pessoas que pensem de forma abrangente o lugar no mundo e na história. Ele aponta como a Universidade contribui para esse objetivo

– Eu acho muito importante a PUC ter feito com que, na sua fundação, alguma disciplina de filosofia fosse obrigatória para a formação de qualquer aluno, de qualquer centro. A ajuda que a filosofia pode dar às pessoas no ato de pensar é importante para qualquer cidadão.

De acordo com o novo diretor do Departamento de Filosofia, um dos papéis fundamentais da Universidade, nesse aspecto, é na formação de professores. Osorio conta que, devido à obrigatoriedade da disciplina no Ensino Médio, houve um aumento na demanda por vagas de licenciatura no Departamento.

– É preciso formar para o Ensino Médio, o que produz uma demanda por licenciaturas. A Universidade percebe a importância desses profissionais. Isso torna o programa da PUC mais competitivo.

► Trajetória de excelência

Luiz Camillo Osorio tomou posse do Departamento de Filosofia no dia 8 de março. Graduado em Economia pela PUC-Rio (1985), com diploma em História da Arte Moderna pelo Modern Art Studies de Londres (1988), Osorio fez mestrado (1991) e doutorado em Filosofia pela PUC-Rio (1998). Foi professor adjunto do Departamento de Teoria do Teatro e do programa de Pós- -Graduação em Teatro da UNIRIO, entre 1994 e 2008. O professor foi membro do conselho de curadoria do MAM de São Paulo, de 2007 a 2009, e curador do MAM do Rio, de 2009 a 2015. Atuou, também, como crítico de arte do jornal O Globo entre 1997 e 2008, e colaborou em publicações especializadas no Brasil e no exterior. Em 2015, foi curador do Pavilhão Brasileiro na Bienal de Veneza.

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