O que é ser de esquerda? Não existe uma definição exata e objetiva. Há quem diga que a esquerda é o movimento de contestação ao sistema capitalista neoliberal excludente. Há quem afirme que ela deve estar necessariamente relacionada aos ideais socialistas. Muitos indicam o pensamento de Marx, do final do século XIX e começo do XX, como o início da divisão esquerda-direita. Nem os próprios membros do Diretório Central dos Estudantes (DCE) têm uma resposta exata de por que produzir o seminário A Esquerda e o Século XXI, realizado na PUC de 24 a 26 de abril. Sabe-se, porém, que a discussão é importante.
Palestrantes experientes na área – os professores Cunca Bocayuva (PUC-Rio), Paulo Arantes (USP), Luis Fernandes (PUC-Rio), Paulo D’Ávila (PUC-Rio), José Paulo Netto (UFRJ), Oswaldo Munteal (PUC-Rio) e Theotônio dos Santos (UFF) – apresentaram um panorama da esquerda no Brasil, transformando as mesas-redondas em aulas e discussões. Os três dias do encontro atraíram poucos estudantes e uma mesa chegou a ter menos de dez pessoas na platéia. "O que define a esquerda é a tentativa de reunir a igualdade com a liberdade", defendeu Cunca Bocayuva. "Como é possível a segunda maior economia capitalista do mundo se passar como um símbolo da esquerda?" argumentou Paulo Arantes, referindo-se à China.
Também foram tema do debate os rumos da esquerda e seus desafios. "Toda a vez que a esquerda brasileira agir isolada, sem aliança, ela sairá derrotada, como sempre aconteceu. O problema é saber o limite das alianças. Ela não pode ultrapassar o limite dos seus ideais", assinalou José Paulo Netto. O professor falou sobre as alianças políticas recentes de partidos até então inimigos, que muitas vezes contrariam políticos e eleitores e geram um "disse não disse" na Câmara e no Senado.
Theotônio dos Santos dissertou sobre a direita, tentando explicar o que não é a esquerda: "A direita é constituída pelas forças que estão com a ordem existente. Ela tem evoluído na medida em que abandona certas formas de exploração, em função de uma forma mais dinâmica, que é o assalariado moderno, ligado às formas de circulação do setor financeiro". Segundo ele, a esquerda é um movimento social histórico, sempre ligado às forças que avançam para atender às necessidades políticas, sociais e econômicas das maiorias.
Leia também: Outra política na América do Sul - Entrevista com Sonia de Camargo
Edição nº 186