O crescimento de faturamento do varejo farmacêutico nos últimos anos tem impulsionado empreendedores a enxergar oportunidades de investir no ramo, aumentando a concorrência e buscando diferenciais para perfis de clientes específicos com ações cada vez mais segmentadas. Coordenador do Laboratório de Sistemas Farmacêuticos Avançados da Farmanguinhos, ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), maior instituição de pesquisa biomédica na América Latina, o professor Helvécio Vinícius Antunes Rocha encerrou a Semana Integrada de Engenharia (Sieng) da PUC-Rio com palestra sobre nanotecnologia e engenharia de materiais e sua interface com a indústria farmacêutica, na sexta-feira, 2.
– A indústria farmacêutica é uma indústria de transformação. O que mais cresce é a introdução de algumas técnicas de caracterização do medicamento, já conhecidas de alguma maneira na área de pesquisa, mas pouco exploradas para o desenvolvimento industrial. Vemos crescer a interdisciplinaridade – afirmou, completando: – Durante o desenvolvimento de um produto é preciso tentar encontrar o equilíbrio através da caracterização dos materiais, que é feita basicamente com conceitos e técnicas que não surgiram na indústria farmacêutica, e sim em outros segmentos. Por isso, precisamos da interação com as outras áreas.
O laboratório da Farmanguinhos produz exclusivamente para o setor público, atendendo ao Ministério da Saúde, secretarias estaduais ou municipais. Todo produto farmacêutico tem como propriedades a biodisponibilidade, que é quanto do fármaco entra na corrente sanguínea e o tempo de duração do efeito; a estabilidade, ou capacidade de manter as características por certo período, que determina seu prazo de validade; e a processabilidade, ou como aquela mistura faz efeito, uma vez no corpo.
O fármaco – qualquer produto ou preparado farmacêutico – é composto pelo princípio ativo, a molécula que vai exercer o efeito terapêutico, e os recipientes, que são os materiais que estão no medicamento. Durante muito tempo foram considerados substâncias sem maior relevância, atualmente sabe-se que elas podem definir ou mudar totalmente a característica de um medicamento. “O conhecimento desse recipiente hoje, seja em tamanho de partícula, seja em termos de polimorfismo, seja em área superficial, várias características que eles têm a gente pode explorar e podem definir bastante como a gente vai desenvolver um determinado medicamento”.
A alternativa que a indústria farmacêutica usa é a redução do tamanho da partícula. Quanto mais área superficial, maior biodisponibilidade. Entretanto, surgiria outro problema do processamento: quanto menor o tamanho da partícula, mais complicado é o processamento. As variações mínimas são essenciais, pois podem definir no final o poder de expansão no mercado. “É questão de centavos”.
– Tentamos beber dessas outras áreas já estabelecidas para tentar entender melhor como o medicamento age, como varia comprar um fármaco do fabricante x e do y, que diferenças têm de efeito terapêutico em termos de produção. Cada uma dessas características está ligada a propriedades que é preciso tentar monitorar no sistema que a gente está desenvolvendo ou fabricando – explicou o professor.