Ao abrir a palestra sobre A força do otimismo, o professor emérito da Califórnia State University Aroldo Rodrigues, de 82 anos, já desfez as suspeitas que o título do seu livro poderia levantar:
– Eu queria alertá-los logo de início que este não é um livro de autoajuda. Pensar positivo, que tudo vai acontecer conforme você desejar... não é nada disso. É um estudo psicológico do otimismo e do pessimismo.
O tema central da obra é a psicologia positiva, assunto que o autor, ex-professor do Departamento de Psicologia da PUC-Rio, introduziu à plateia do Auditório Padre José Anchieta na segunda-feira, 26. Rodrigues, que é responsável pelo desenvolvimento da Psicologia Social no Brasil, articula a psicologia positiva, que se baseia no otimismo e no pessimismo como justificativas para as ações individuais, aos estudos de “atribuição de causalidade” – as explicações que o ser humano busca para os acontecimentos da vida.
Criada no fim do século XX, pelo americano Martin Seligman, a psicologia positiva tem como foco, como afirma o professor, os aspectos mais entusiasmantes e alegres do lado humano – ao contrário das grandes correntes psicológicas, que se debruçam sobre doenças mentais e conflitos.
– Pela psicanálise, tudo o que a gente faz é determinado pelo inconsciente. No Behaviorismo, tudo o que a gente faz é pelo condicionamento externo. Não somos um peão na mão dessas forças todas. Temos a capacidade de nos autoregular. E é isso que a psicologia positiva salienta – ressaltou.
Rodrigues exibiu gráficos de pesquisas que indicam a maioria da população humana como feliz. Em uma escala de 0 a 10 em nível de satisfação com a vida, grande parte das pessoas entrevistadas (1.100.00 pessoas em 45 países) respondeu entre 5 e 9. Em outra pesquisa, 80% das 256 mil pessoas ouvidas em 87 países afirmaram estar felizes na maior parte do tempo. Baseado nesses dados, o professor conclui que a maioria das pessoas é otimista. Para explicar esse fato, Rodrigues listou razões genéticas, evolutivas, culturais e, a que ele mais acredita, relativas à proteção do nosso bem-estar e autoestima:
– A maioria das pessoas é otimista porque gosta. Otimismo é bom! É muito melhor ser otimista do que ficar antecipando tempestades. Isso traz bem-estar, e temos uma tendência enorme de proteger nossa autoestima. Não gostamos de parecer burros ou imorais. E, por causa disso, a gente se autoilude.
O acadêmico também destacou desvantagens no otimismo e benefícios no pessimismo. Categoriza o otimista em diferentes categorias, como o ingênuo, o passivo e o irrealista. O primeiro acredita que tudo acontecerá do jeito certo, mesmo sem qualquer base para se apoiar. O passivo, por sua vez, espera os resultados positivos chegarem até ele, sem esforços. O último tipo de otimista ignora a realidade e acredita que fatos ruins só acontecem com os outros. “Portanto, quando o otimismo cria uma ilusão de vulnerabilidade, busca objetivos inatingíveis ou resulta em complacência, é prejudicial ao ser humano”, observou.
Paralelamente, o pessimismo também pode carregar vantagens. Inspirado no livro The positive power of the negative thinking (O poder positivo do pensamento negativo) da psicóloga americana Julie Norem, Rodrigues mencionou a importância do pessimismo defensivo, que antecipa as dificuldades e tenta criar estratégias para evitá-las. Além disso, o ato de sempre esperar pelo pior é benéfico quando é racional e faz da pessoa ciente da realidade adversa.
Rodrigues conclui, no entanto, que o otimismo tem mais consequências positivas que negativas. Aqueles que têm boas expectativas para o futuro tendem a enfrentar mais os problemas, ao aceitar a realidade e procurar soluções – ao contrário dos pessimistas, que normalmente, diante de uma situação traumática, têm atitudes de desengajamento e negação. O pessimismo, além de conduzir a estados depressivos, enfraquece o sistema imunológico. Assim, o professor acredita que aqueles que explicam os acontecimentos de suas vidas através do otimismo têm melhores rendimentos no meio acadêmico, profissional e esportivo.
– Estou muito convicto de que o otimismo é realmente melhor do que o pessimismo. Gil Stern já disse: “A sociedade precisa tanto do otimista quando do pessimista: porque o otimista inventa o avião, enquanto o pessimista inventa o paraquedas”.