A crítica através do humor
11/06/2007 16:00
Gisele Valente

Charges e caricaturas contam história das sociedades

Charges e caricaturas contam história das sociedades

Euclides da Cunha, autor
de Os Sertões, retratado
por Raul Pederneiras
As reações às charges do profeta Maomé, divulgadas inicialmente por um jornal dinamarquês, e depois por vários jornais europeus, americanos e algumas publicações brasileiras, em fevereiro de 2006, mostram como charges e caricaturas têm um papel mais forte do que se pensa na sociedade. Aproveitando a atualidade do tema, a professora Laura Nery, da Casa de Rui Barbosa, falou aos alunos da PUC no dia 18 de maio, sobre a história da caricatura, sua evolução e seu papel nos dias
O china vendedor
de peixe e camarão
,
de Raul Pederneiras
de hoje. Segundo Laura, a caricatura é hoje um testemunho, uma fonte de informação para o historiador, que pode ajudá-lo a entender melhor a própria história da arte, através de uma mensagem bem-humorada.

– O uso do humor é predominantemente um modo crítico, de ataque. É um recurso de descompressão das tensões sociais. O riso tem nacionalidade e temporalidade muito bem definidos. A mesma piada que tem graça aqui, não tem graça na Inglaterra, por exemplo, afirmou Laura.

A caricatura surgiu no século XVII, na Itália, sendo Annibale Carracci um de seus primeiros expoentes. A agitação social da França do século XIX foi um prato cheio para os caricaturistas do período. Destacam-se artistas como Honoré Daumier, considerado um dos melhores do gênero, cuja vítima preferida era o governo de Luís Felipe (1773 - 1850). Até Monet e Picasso têm trabalhos como caricaturistas. No Brasil, Raul Pederneiras era o caricaturista mais famoso da República Velha, assinalou Laura.

Les gens de Justice, de Honoré Daumier
Ela reforça o argumento de que, apesar de a definição de caricatura vir sendo mantida desde seu surgimento, ela se reinventa com o passar do tempo, investe numa releitura de sua própria tradição.

– A caricatura sempre tem um fim, ela é ambiciosa. Quer fazer rir, quebrar padrões, atacar. E isso não mudou do século XVII até os dias de hoje, afirmou Laura.

 

 Edição 187