Deixar de comer carne ou produtos de origem animal, provar receitas inusitadas. Questões que fazem parte do dia a dia de quem quer adotar um outro estilo de vida a partir da alimentação. Para tentar responder estas e outras indagações, um grupo de alunos de Relações Internacionais criou, em abril deste ano, o Coletivo Vegano e Vegetariano. Com página e grupo no Facebook e WhatsApp, a comunidade tem o objetivo de desmitificar o que é ser vegano, e mostrar como é mais fácil do que a maioria julga ser.
Idealizador do projeto, Pedro Henrique Bedim considera que a comunidade funciona como um grupo de apoio. Segundo ele, uma das propostas do Coletivo é aumentar o número de opções de comida para os veganos e vegetarianos no campus. Os primeiros não consomem nada que tenha origem animal. Já os vegetarianos não se alimentam de qualquer tipo de carne.
Ele destaca o papel da plataforma na divulgação de comidas veganas produzidas por alunos e ex-alunos da PUC. Observa, ainda, que tabus e piadas são obstáculos para quem está na transição para mudar a dieta.
– O Coletivo Veggie me ajudou a lembrar cotidianamente os motivos de não comer mais carne e produtos de origem animal. No início do vegetarianismo, você tem que se lembrar sempre do porquê de estar fazendo isso e, com o tempo, fica natural; os conhecidos param com as piadinhas.
A estudante Amanda Abreu afirma que todos são bem-vindos para participar do grupo, inclusive os não vegetarianos. Ela explica que a meta é ser uma plataforma de ajuda, com dicas de substituição alimentar e produtos de higiene não testados em animais, além de contatos de nutricionistas que podem auxiliar nessa mudança de hábito alimentar.
– Achava a alimentação dos vegetarianos e veganos limitada na Universidade. Com o coletivo, descobri o “pandinhas”, barraquinha que vende salgado vegano. Tiramos dúvidas sobre dietas vegetarianas ou veganas, compartilhamos receitas, atividades e páginas – relata.
Também integrante do Coletivo, Laura Cruz diz que muitas pessoas têm uma visão limitada sobre o assunto, como a ideia de que os veganos são radicais. Ela ressalta a presença dos não vegetarianos na página do Coletivo.
– Antes de virar vegetariana, já demonstrava interesse, curtia no Facebook páginas vegetarianas. É o caso de muitos que seguem nossa página.
Cardápio variado
Brownies, trufas e tiramissu: esses são alguns dos lanches veganos produzidos e vendidos pela aluna de psicologia Isabel Litsek. Ela conta que a demanda por esse tipo de alimento tem crescido, e a crença de que “vegano é sem gosto”, diminuído. Isabel acrescenta que a maioria das receitas são criadas por ela. A aluna enfatiza que a maioria dos consumidores não é vegetariana, e muitos são intolerantes à lactose. Para ela, o consumo de derivados de animais é cultural, o que torna comum a resistência aos alimentos veganos.
– Me sentia ovelha negra na PUC, e, com o Coletivo, vi a quantidade de pessoas que também seguem esses princípios ou que querem e fazem o esforço para segui-los. Muito linda essa comunidade.
Yasmin do Carmo é ovo-lacto-vegetariana há oito meses – não consome qualquer tipo de carne – e não utiliza produtos testados em animais. Ela explica que pretende se tornar vegana, e que o grupo a incentiva nessa transição. Segundo a estudante, a página mostra que vegetarianismo não consiste em uma dieta alimentar baseada só em saladas, e que o veganismo cada vez mais ganha voz e respeito.
– Acho que pessoas não-vegetarianas interessadas são um grande incentivo. É bom saber que o Coletivo está influenciando pessoas a talvez mudarem o estilo de vida.
Bedim aponta para o fato de a publicação mais curtida e compartilhada do Coletivo ter sido a divulgação da venda de salgados veganos na “barraca da Tia Denise”, quiosque do polo gastronômico da PUC. Denise Martins começou a vender salgados veganos este semestre, e as receitas fazem sucesso.
– Vendo coxinha de jaca, kibe com tofu, tortinha de alho poró ou tomate seco. Tem muito vegetariano que vem comprar, mas até quem não é vegano come a famosa coxinha de jaca, as pessoas ficam curiosas.
O idealizador do Coletivo diz que a recepção tem sido boa, mas o grupo ainda não é institucionalizado com a Universidade. Bedim acredita ser necessário, como meta, abrir um canal de diálogo com o Bandejão e outros restaurantes e lanchonetes da PUC em busca de mais opções veganas.
– Gostaríamos muito de promover seminários sobre questões como direito dos animais e justiça social. Seria interessante levarmos alunos para hortas urbanas, ensinar técnicas de plantio e, quem sabe, de confecção de cosméticos veganos. Até onde eu sei, o céu é o limite.