Ao ministrar na PUC-Rio a aula inaugural Domínio Adicional em Empreendedorismo 2017.1, a convite da Coordenação de Ensino de Empreendedorismo IAG/ PUC-Rio, o empresário e ex-técnico da Seleção Brasileira de Vôlei Bernardinho ressaltou a importância da dobradinha esporte e estudo para a formação de jovens, em especial os de baixa renda. Ganhador de 28 títulos em 16 anos de Seleção, Bernardinho, hoje treinador do Rexona-Sesc do Rio, lamentou que falte no Brasil essa parceria do esporte com as escolas:
– A minha preocupação é o esporte na educação. Acho que deveria mudar até a cultura do esporte, deveria haver esporte de qualidade na escola. A gente não vai ter um país que seja uma potência olímpica, que tenha uma cultura esportiva significativa, se nós não propiciarmos aos jovens esporte de qualidade nas escolas.
Outro ponto abordado pelo treinador foi o chamado legado olímpico, “além das obras e medalhas”. Para ele, as experiências de vida dos atletas é o que devem servir de exemplo e inspiração.
– O verdadeiro legado olímpico não são essas obras que foram feitas e que não estão tendo muita utilidade. Na verdade, são as verdadeiras histórias, a da Rafaela Silva, que saiu de uma comunidade [Cidade de Deus] para o lugar mais alto do pódio; do Isaquias Queiroz, que foi do interior da Bahia e se tornou o maior medalhista olímpico do país [na canoagem] em apenas uma edição dos jogos; do Serginho, que saiu de Pirituba e foi medalhista olímpico [do vôlei] por quatro anos consecutivos. Esse é um elemento que mostra aos jovens que é possível, desde que haja vontade, um projeto e disciplina.
Disciplina para Bernardinho, é fundamental: sem ela é impossível ter sucesso, seja no ramo dos negócios ou no esporte, acredita. Ele atribui a isso a dificuldade de adaptação dos jogadores brasileiros no exterior, principalmente na Europa.
– É uma questão de cultura. Quando eles chegam à Europa, que tem uma rotina mais regrada, disciplinada, eles enfrentam mais dificuldade, o que demonstra a falta que faz ter uma cultura de disciplina. De fato, aqui as pessoas não dão importância à disciplina. Os jovens pensam “pô é chato”. E isso não acontece só no esporte.
Um dos maiores empresários do país – é sócio da rede de academias Bodytech, da rede de restaurantes Delírio Tropical, da franquia de Escolas de Vôlei Bernardinho (EVB) e da plataforma de estudos online Eduk –, acredita que para ter um negócio de sucesso é preciso liderança, assim como no esporte, e que a liderança exige a tomada de decisões difíceis.
– Ao líder, cabe fazer o que é certo. Na minha carreira passei por algumas situações em que fiz isso e fui muito questionado: a mais recente foi o corte de Murilo da Seleção Olímpica da Rio-2016. Eu avaliei que perdemos em 2012 por causa da falta de vigor físico, e Murilo passou por muitas lesões recentemente, por isso achei que não tinha condições físicas de participar, apesar do ótimo histórico.
Bernardinho pensa agora em seguir carreira também na gestão de esportes, que compara à da nação:
– O esporte é um reflexo do nosso país, são pessoas que se perpetuam no poder, que se colocam como se fossem donos. Penso em contribuir para a gestão do esporte, ajudar a melhorar. Fazer uma gestão diferente, com muito mais governança, muito mais transparência, muito mais ética. Muita coisa pública é tratada como privada.