Ser herdeiro de uma empresa pode ser motivo para muitos cabelos brancos e dores de cabeça. Seguir o que o pai deseja e sentir que tem um destino traçado muitas vezes não corresponde ao sonho de realização do jovem sucessor. Para orientar a empresa familiar sobre como minimizar esta e outras questões que envolvem a gestão em família, a coordenadora de graduação de empreende-dorismo Carla Bottino, do Departamento de Psicologia, organizou, em 5 de junho, o workshop Os Desafios das Empresas Familiares, que contou com a participação de sete especialistas.
Da padaria da esquina até o Banco Itaú, a Votorantim ou as Casas Bahia, o controle empresarial é familiar. As empresas familiares correspondem a cerca de 80% dos negócios do mundo e 90% dos brasileiros. Ao mesmo tempo, apenas 65% delas chegam à segunda geração e, 15%, à terceira, segundo estatísticas da Universidade de Harvard, dos Estados Unidos. Falta de dinamismo, centralização autoritária e disputas pessoais estão entre os principais motivos da dificuldade em manter a prosperidade de uma empresa.
– Não há receita de bolo. Cada família deve encontrar a sua fórmula. O ideal é que busquem o equilíbrio, em que ela própria e a empresa funcionem como um pêndulo, explicou Carla.
Flavia Hartveld, 21 anos, aluna do 5º período de Engenharia de Produção, assistiu ao workshop para tirar as suas dúvidas a respeito do futuro profissional. Possível herdeira de nove lojas da franquia francesa 5 à Sec, de seu pai Michel Hartveld, 70 anos, ela se diz "balançada" entre a oportunidade de ser dona de um empreendimento garantido e a idéia de tomar um rumo próprio.
– O que me estimula é saber que não serei empregada de ninguém, que vou ter um trabalho certo. Ao mesmo tempo, não gosto da rotina desgastante e do estresse que um empreendedor é obrigado a levar nas costas, desabafa Flávia.
Assim como a maioria dos jovens sucessores, Flávia ainda não está certa de suas escolhas. Diferentemente de alguns, não se sente pressionada pelo pai a dar continuidade aos negócios, pois ambos sabem a importância de ela ter outras experiências de trabalho antes de ingressar na empresa.
– Quando demonstrei interesse, meu pai me apoiou, mas ele também me dá liberdade de escolha. Ainda não sei o que quero. Só sei que não quero ter a vida que ele tem.
Carla frisou a importância de os pais respeitarem as vontades dos filhos, sem pressioná-los e julgá-los a todo o momento. Segundo a coordenadora, o segredo do sucesso está no diálogo e no planejamento sucessório.
– O mais importante é permitir que os filhos sonhem, é perceber o desejo deles, enfatizou.
Edição 188