“Hoje não existe mais testemunha ocular, é testemunha celular”, resumiu o jornalista Fábio Gusmão, editor do jornal Extra, ao comentar a influência das tecnologias na cobertura jornalística, especialmente da cidade. Em palestra para alunos de Comunicação Impressa da PUC-Rio, a convite dos professores Luciana Braffman e Alexandre Carauta, na sexta-feira (23), o jornalista falou sobre a cobertura on-line realizada com ajuda dos leitores.
Desde 2009 o Extra mantém uma conta no Twiter, para passar e receber informações de forma rápida. Hoje são 54,2 mil seguidores. Durante a onda de violência que tomou a cidade na retomada do Complexo do Alemão pela polícia, em novembro de 2010, o canal se tornou referência usando as hashtags “#É Verdade” e “#É Boato” para classificar conteúdos publicados nas redes sociais. Informações publicadas nas redes ou enviadas por leitores eram checadas por um mutirão de repórteres: “Chegou uma hora em que estávamos fazendo cobertura quase ao vivo, parecia a bolsa de valores, todo mundo falando no telefone, gritando, passando informação”, lembrou. A página Casos de Polícia continua informando e checando fatos que circulam pela rede. Gusmão diz que a população quer participar e esse envolvimento do leitor é visto como positivo, pois torna possível que os repórteres enxerguem onde antes não se via.
O jornalista, que acompanhou no Extra, desde o início dos anos 2000, a evolução de ferramentas e plataformas na cobertura on-line, alertou para a facilidade e o risco de circulação de notícias falsas ou incompletas. Citou como exemplo o caso do vídeo em que uma jovem é espancada e tem o cabelo raspado, compartilhado nas redes e reproduzido por veículos de comunicação sem qualquer apuração:
– Muita gente achava que tinham matado a moça. No Extra, levamos dias até encontrar a família, e só então publicamos a matéria. Ela estava viva, internada num hospital. Infelizmente, ela morreu no dia seguinte – lembrou o jornalista, alertando que a ânsia em ser o primeiro a publicar não pode superar a apuração dos fatos: – Não precisa ser o primeiro a publicar, mas tem que dar a informação completa. O Extra era o único jornal a ter a informação completa, e isso, além de trazer cliques, traz também a atenção do leitor e afeta o comportamento, porque logo depois todos estavam compartilhando a matéria.
Gusmão lamentou a tendência do mercado de trocar jornalistas mais velhos por profissionais mais jovens justamente pela familiaridade com o mundo on-line. No entanto, ressaltou que esses jovens repórteres têm muito a aprender com os antigos em apuração, checagem e construção do texto. A professora Luciana Braffman completou: “Não existe matéria sem apuração. É um dos valores essenciais do jornalismo. É o que embasa a credibilidade”.
Ao ser questionado sobre o tom editorial das manchetes do Jornal Extra, o jornalista respondeu que é intenção do jornal fazer cobranças, principalmente na área de política: “A manchete tem que traduzir o que as pessoas querem ler. Editorializar é falar o que as pessoas querem falar”.