A primeira publicação da Associação de Docentes da PUC-Rio, em 1977, tinha como título “Peço a palavra”. A abertura política no país era “lenta, gradual e segura”, e a sociedade demandava que fosse “ampla e irrestrita”. O tema de fundo nos artigos do Boletim era “ciência e democracia” e a luta contra a censura. A ADPUC fora criada como um meio de posicionamento dos professores em relação ao momento político do país, ao movimento discente e a pautas relacionadas. A partir de 1978, o Boletim adotou o lema “Um galo sozinho não tece uma manhã”, verso de um poema de João Cabral de Melo Neto, que sugeria a importância da participação docente no âmbito interno e na conexão entre as diversas associações docentes regionais e nacional que se formavam.
Entre 1980 e 1981, a PUC-Rio viveu momentos de tensão entre a administração central, professores e alunos. Nesse contexto de mobilização por canais de participação na sociedade e de reivindicações salariais e de melhoria das condições de trabalho na Universidade, ganhou ênfase a questão da democratização da gestão universitária. Estavam presentes nas discussões a regulamentação da carreira docente e a reorganização e fortalecimento dos órgãos colegiados, como o Conselho Departamental e as Comissões Gerais.
O processo foi difícil mas houve avanços com a reconfiguração das esferas decisórias e de gestão acadêmica e administrativa em um modelo que sublinhava o papel dos colegiados com representação docente, discente e de funcionários. Essas conquistas tornaram-se um dos pilares do chamado “modelo PUC”, também marcado pela relação orgânica entre ensino e pesquisa e entre a graduação e pós-graduação.
Depois de 1981, a questão salarial suplantou outras discussões. Em 1993, não houve a renovação da direção da ADPUC. Vivemos hoje um momento em que as conquistas dos anos 1980 estão incorporadas, mas novas questões se apresentam. Talvez seja a hora de tecer formas de mobilização, de discussão e de trocas entre os que trabalhamos na PUC-Rio para que a ciência e as universidades brasileiras mantenham-se como um espaço vivo de exercício da cidadania.