Na efervescente década de 60, um grupo de jesuítas era responsável pela tomada de importantes decisões na Universidade. Em comum, além da batina, alguns deles possuíam um forte sotaque húngaro e atuavam no desenvolvimento de pesquisa e ensino em Ciências Humanas. Entre eles, destacava-se o padre Antonius Benkö, dono de uma gargalhada reconhecível de longe pelos corredores. Considerado um visionário por praticamente todos que o conheceram, ele teve atuação essencial na fundação do Departamento de Psicologia da Universidade e no desenvolvimento do primeiro curso de pós-graduação na área do Brasil.
Padre Benkö chegou ao Brasil em 1954, e muitos que o conheceram dizem que o jeito carioca combinou com seu humor irônico. Ele passou a fazer parte do corpo acadêmico da PUC em 1957, como professor de Psicologia e Orientação Educacional. Com a intenção de montar um corpo docente qualificado, padre Benkö estimulou a ida para o exterior dos alunos que se destacavam academicamente.
– Diversos alunos da Educação foram fazer pós-graduação na Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, onde Benkö fez seu doutorado, comenta o professor emérito José Carmelo Brás de Carvalho, um dos escolhidos.
Ao se tornar diretor da Faculdade de Filosofia da PUC, que reunia os cursos de Humanas, em 1964, padre Benkö renovou seu quadro de funcionários, incluindo na direção dos departamentos os alunos recém-chegados do exterior. Os "benkistas", como eram conhecidos os jovens apoiados por Benkö, enfrentaram resistência dos professores que estavam há anos na faculdade.
"Foi um período delicado, pois muitos se perguntavam como jovens sem experiência poderiam assumir a direção", conta Carmelo. Padre Benkö, no entanto, sempre apostou na capacidade do grupo. Com a Reforma Universitária, em 1968, foram criados o Centro de Teologia e Ciências Humanas e o Centro de Ciências Sociais, dando origem à separação dos cursos da Faculdade de Filosofia.
Foi na Psicologia que a atuação de padre Benkö mais se destacou. "Ele articulou um projeto para o Departamento de Psicologia, que foi concretizado pelo professor Carlos Paes de Barros", conta Maria Elizabeth Ribeiro, atual diretora do Departamento. De acordo com a professora, padre Benkö teve fundamental importância para o desenvolvimento da área no Brasil. Ela lembra que, em 1957, ele foi o redator da proposta de criação da carreira de psicólogo, que foi oficializada em 1962. "Ele era um professor muito exigente", conta ela, que diz ter orgulho por ter recebido um elogio do professor em uma de suas avaliações.
"Benkö sempre foi precursor. Ele falava em integração entre Psicologia e Educação numa época em que não se pensava nisso", garante Rosina Wagner, professora do Departamento de Educação e ex-aluna do padre. Ele tomou as primeiras iniciativas para a criação de uma pós-graduação nas duas áreas. "Possivelmente ele sabia da preparação para a pós-graduação no Brasil, por ser assessor do Ministério de Educação e Cultura (MEC)", explica Carmelo. Padre Benkö quis que a PUC fosse pioneira.
Seu relacionamento com os colegas de trabalho e alunos sempre foi muito amigável. "Nós sabíamos que o padre Benkö estava chegando através de sua grande mão, no vidro, ao entrar em nossa sala", lembra Maria Loureiro. Atualmente assessora do Decanato do CTCH, ela trabalhava, em 1964, confeccionando diplomas da Faculdade de Filosofia, na época em que ele era diretor. Seus 17 anos a deixavam tímida diante da imponente figura do professor. Ela garante, no entanto, que a relação era muito fraterna. Tanto que, em 25 de janeiro de 1969, padre Benkö realizou seu casamento na Igreja Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado.
Antes de voltar para sua terra natal, padre Benkö foi Vice-Reitor para Assuntos Acadêmicos, de 1973 a 1976, logo após sair da direção do Departamento de Teologia. Ainda hoje sua importância é reconhecida. No dia 26, às 12h, foi celebrada uma missa pelos 60 anos de seu sacerdócio, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus. A cerimônia reuniu ex-alunos, colegas de trabalho e amigos do padre. No final, muitos deles gravaram mensagens que serão enviadas a Budapeste, onde padre Benkö vive hoje. "Sua presença na PUC continua forte", garante Maria Elizabeth.
Edição 189