O celular é uma ferramenta essencial para a rotina moderna. E-mails, planejamentos, mensagens e contatos estão todos agrupados nessa portátil máquina. Mas, apesar de oferecer facilidades ao nosso dia a dia, esses aparelhos também podem ter efeitos negativos, inclusive para a nossa saúde. Esse é o caso do chamado smartphone thumb ou textingtendinitis - tendinite no tendão do polegar por causa do uso excessivo do aparelho. Assim, a popularidade dos smartphones pode intensificar um crescimento global desse problema.
A Lesão por Esforço Repetitivo (L.E.R.) é uma contusão nos músculos e nervos. Comum em professores e profissionais que repetem o mesmo movimento por longos períodos diariamente, ela existe desde a época das máquinas de escrever. O gesto repetitivo da datilografia e depois o movimento ainda mais rápido da digitação em teclados de computador criaram uma verdadeira população que sofre desse problema.
O engenheiro de Computação Rodrigo Espinha, que trabalha no Instituto Tecgraf, foi diagnosticado com L.E.R pela primeira vez há dez anos. Com o computador como ferramenta de trabalho, Espinha passa parte do dia digitando. Segundo ele, o uso excessivo do teclado foi o que ocasionou o problema, e o tratamento apontado pelo ortopedista incluiu anti-inflamatórios, uma drenagem dos cistos que apareceram nos dois punhos e sessões de fisioterapia.
- Comecei a sentir dor nos punhos e fui ao ortopedista. Ele disse que eu tinha cistos sinoviais nos dois punhos. Tive que fazer fisioterapia por um tempo para reforçar a musculatura da mão. Com o tempo, consegui melhorar a musculatura, o cisto continua, mas não dói.
Hoje, os smartphones podem ser considerados uma tecnologia popular. O consumo de celulares tem crescido a cada ano, uma vez que esses telefones são portáteis e mais baratos que um computador. A inclusão digital traz, porém, um aumento de problemas de saúde derivados do uso excessivo desses aparelhos. Segundo o fisioterapeuta Daniel Zidde, lesões nos tendões das mãos, problemas de visão, postura ruim e déficit de atenção são alguns dos danos causados pelo abuso dos movimentos repetitivos.
- A tendinite do computador surge com a utilização de movimentos muito curtos, diferentes da máquina de escrever. Já com o smartphone, os movimentos são mais curtos ainda, pois utiliza-se principalmente os polegares. O excesso pode levar a uma tendinite com mais facilidade. Outros problemas também podem surgir: a tela pode levar a problemas de visão, a postura também fica mais curta e fechada, e crianças podem ter problemas de aprendizado.
As partes mais afetadas são os tendões dos polegares e o principal nervo das mãos - nervo mediano carpo. O fisioterapeuta explica que a tendinite nos polegares, se não for tratada, pode se tornar uma inflamação mais séria. Zidde afirma que, sem o tratamento adequado, a lesão pode virar uma fratura muscular e gerar problemas articulares, como o início da degeneração muscular, como artrose.
Não são raros os casos de jovens com smartphone thumb. A estudante de Jornalismo Anna Sashide sofreu uma lesão no ano passado e acredita que o excesso de celular é uma das causas. Ela foi diagnosticada com tendinite no punho direito e teve que imobilizá-lo com o uso de uma munhequeira. A aluna aplica gelo na área e faz alongamentos frequentes, pois ainda sente sinais da lesão.
- Eu basicamente acordo e estou com o celular na mão, vou dormir estou com o celular na mão. Depois de usar a munhequeira, eu não consigo digitar por muito tempo, porque começo a sentir dor. Tento usar o indicador ou não usar o celular. Reparei que devia ser culpa do celular quando vi um programa de TV sobre isso. Comecei a perceber que quanto mais eu usava o celular, a dor ficava mais forte. E nos dias que não pegava o celular, praticamente não sentia dor.
Esses problemas não vão obrigatoriamente afetar a todos. Zidde enfatiza que não existe um tempo definido, depende da resistência de cada indivíduo. Segundo o fisioterapeuta, o problema deve ser detectado no momento que começa a incomodar, para a dor não se tornar crônica. Há também formas de prevenção, ele informa, como o não uso excessivo dos aparelhos, fazer alongamentos e movimentos de relaxamento das mãos e dos braços, mesmo princípio da ginástica laboral.
Esse tipo de exercício tem se tornado comum dentro das empresas, como suporte para a saúde dos funcionários. A professora de Educação Física Jocineia Santos, conhecida como Jô, instrui funcionários da PUC-Rio na ginástica laboral. Ela esclarece que o objetivo dessas atividades é melhorar o desempenho no trabalho sem prejuízo físico.
- Quem trabalha com computadores e fica digitando o tempo todo, precisa saber a posição correta dos braços, ombros, pescoço. É a preocupação de trabalhar e não prejudicar o funcionário e a empresa.