Vinte minutos depois de dar início à palestra Discussões teóricas sobre o jornalismo, Ali Kamel pede água. A essa altura, o diretor-executivo da Central Globo de Jornalismo já tinha falado sobre guerra de ideologias, busca de objetividade, apreensão da realidade e de algumas técnicas jornalísticas. Era só o começo de um encontro recheado de questões polêmicas. Alunos de graduação e pós-graduação da PUC, além de alguns professores, presenciaram, no dia 15 de agosto, uma grande aula de jornalismo na Sala 102-K. Registros fotográficos ou audiovisuais, porém, não foram permitidos pelo palestrante.
Formado em Ciências Sociais na UFRJ e em Jornalismo na PUC, Ali Kamel tem a experiência de 23 anos de trabalho em redações de jornal e televisão. Repudia qualquer forma de parcialidade e a idéia de jornalismo de esquerda e de direita, como numa batalha ideológica. Para ele, o relato deve ser o mais puro e isento possível, acompanhado de um certo grau de objetividade.
O compromisso
com o público
deve estar em
primeiro lugar
Para ilustrar o que falava, Ali Kamel aplicou a expressão reputação jornalística. Disse que qualidade e isenção estão em primeiro lugar, independentemente de uma matéria possivelmente desagradar a alguém. "Se eu pensar em deixar de noticiar algo para não prejudicar uma pessoa ou uma empresa, devo pedir demissão e abandonar a carreira. Em primeiro lugar, está o compromisso com o público", disse.
As tão famosas discussões dentro do ambiente de redações foram exaltadas pelo diretor. Para ele, jornalismo saudável é o que tem pessoas diferentes ocupando posições de influência. Diagramadores, fotógrafos, repórteres e redatores devem dialogar entre si, sem que haja a figura de um profissional autocrático e ditador.
Já a questão de as pautas dos grandes jornais serem quase idênticas foi vista com naturalidade: "Isso demonstra a preocupação do que vai afetar o cidadão, daquilo que realmente faz diferença. O momento histórico e o código de conduta também tornam a pauta parecida."
Assuntos como a cobertura da queda do avião da TAM também foram discutidos. Ali Kamel justificou o fato de a TV Globo ter continuado exibindo a novela das 19h enquanto os acontecimentos iam se sucedendo. "Priorizamos a informação. Não queríamos tratar de um assunto delicado com incertezas. Diferentemente da Rede Record, não somos sensacionalistas nem fazemos narração de espetáculo", afirmou, referindo-se ao jornalista Datena.
Ali Kamel falou ainda de ética, da inviabilidade de produzir matérias 100% objetivas, do fato de a imprensa estar sob forte controle social e da ilusão de jornalistas que acreditam numa única fonte ou almejam chegar a uma verdade. Em determinado momento, chegou a discutir mais asperamente com o professor Paulo Rubens, do Departamento de Comunicação, que fazia algumas acusações à Rede Globo. Ao fim, a ordem já estava restabelecida e os fortes aplausos apontavam para o sucesso da palestra. Pena que não deu para fotografar.
Jornal 190