‘Tropa de Elite’ aquece debate sobre pirataria
28/09/2007 17:30
Aurélio Amaral

O filme do diretor José Padilha deu novo fôlego às discussões sobre a pirataria de DVDs. Alunos e professores da Universidade opinam sobre a facilidade de se obter cópias ilegais, tanto na internet como nas ruas do Centro da cidade.

Versões piratas de diversos longas-metragens
são encontradas em bancas na Uruguaiana
(foto: Felipe Corrêa)
Se você já viu Tropa de Elite, não é o único. Seus produtores estimam que 1,5 milhões de pessoas já tenham assistido às histórias do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope). Ilegalmente, é claro. O filme mais pirateado da história do cinema brasileiro e o primeiro a ser vendido em camelôs antes da estréia oficial já ganhou até falsas continuações nos camelôs do Centro do Rio. Lá, encontram-se também Os Simpsons, Duro de Matar 4.0 e A Hora do Rush 3, recém-lançados nos cinemas. Não é novidade que a pirataria de DVDs é cada vez mais veloz. Mas por que ela é tão popular entre os jovens de classe média?

O alto custo dos filmes e de ingressos de cinema seria a justificativa mais óbvia para o consumo de produtos ilegais pelas classes mais baixas. Mas essa explicação se mostra insuficiente quando o consumidor pode arcar com esses custos.

– O problema não é o preço em si. Nossos clientes podem pagar pela locação mas preferem, com o mesmo dinheiro, adquirir uma cópia de pior qualidade. A força da pirataria no Centro e nos bairros mais pobres da cidade acaba por influenciar os moradores daqui, diz Rodrigo Souza, gerente da locadora Animatrix, no Leblon.

As versões piratas de "A hora do
rush 3" e "Os Simpsons - O Filme", e a
mais nova criação dos falsificadores:
"Tropa de Elite 3"
(foto: Carolina Jardim)
Numa turma de Cinema da PUC, apenas três dos 30 alunos nunca compraram um filme pirateado. E só dois consideram a ação antiética. A grande maioria não vê problemas na prática, que é proibida por lei. "Crime é o preço dos DVDs originais", argumentam os alunos.

– Vivemos na sociedade do consumo. Se há um produto mais barato disponível, por que não comprá-lo? O direito de consumir sobrepõe-se aos valores morais. Talvez por isso a pirataria, mesmo ilegal, seja socialmente aceita, explica Luiz Fer-nando Almeida Pereira, professor de sociologia da PUC e especialista em violência urbana.

A violação de direitos autorais também apresenta particularidades a seu favor. No caso de um furto, por exemplo, o prejudicado é uma figura palpável: uma pessoa, uma loja, etc. Já no caso da pirataria, a vítima não é tão clara.

– Quando faço um download na internet, não estou fazendo mal a ninguém. Não é como roubar, diz Pedro Schulz, aluno do 2º período de Comunicação.

Uma cena do polêmico filme "Tropa de Elite"
(Divulgação)
Para o governo, no entanto, a pirataria causa danos evidentes. Por causa dela, o país deixa de arrecadar cerca de R$ 30 bilhões por ano em impostos e dois milhões de empregos formais deixam de ser criados. Só no segmento de aluguel de vídeo, são 70 milhões de postos de trabalho. No dia 12 de setembro, 60 locadoras em todo o país pararam suas atividades em protesto pelo combate mais eficiente à pirataria. A insatisfação vem também de fora do país. Apesar dos elogios recentes ao Conselho Nacional de Antipirataria, os Estados Unidos colocam o Brasil na quarta posição entre os países que mais falsificam mercadorias e fazem exigências por mais fiscalização dos direitos autorais.

Por isso, se você só compra pirata, cuidado: O Bope vai te pegar!

O que diz a lei

A lei antipirataria, de 2003, prevê pena de multa ou de três meses a um ano de detenção para a reprodução não autorizada de obra intelectual, com fins lucrativos. Quem vende, distribui, aluga ou compra esses produtos, pode pegar a pena de dois a quatro anos de reclusão e multa. Ou seja, a pena é a mesma para quem compra e para quem vende. 

Edição 191