A invisibilidade em foco
28/09/2007 17:20
Ana Terra Athayde



‘Querô’, de Plínio Marcos, chega aos cinemas

Maxwell Nascimento representa Querô em filme de Cortez (detalhe)

A adaptação para as telas de Querô – Uma reportagem maldita, romance escrito pelo dramaturgo Plínio Marcos em 1976, tem chamado a atenção da crítica pelo realismo e pela força da interpretação de seu protagonista. A invisibilidade de adolescentes da região portuária de Santos ganha recorte atual no filme de Carlos Cortez, que evidencia a inércia do estado de abandono da região. Antes mesmo de sua estréia nacional, no dia 14 de setembro, o filme já tinha recebido treze prêmios em festivais pelo país.

Filho de uma prostituta, Querô – apelido que ganhou após sua mãe ter morrido ao ingerir querosene – enfrenta o abandono e leva uma vida de penitências. A passagem do adolescente pela Febem garante cenas marcantes de violência física e sexual, esta última considerada a de mais difícil interpretação por Maxwell Nascimento, de 18 anos. "É duro saber que as situações vividas por Querô realmente acontecem", conta ele, que ganhou três prêmios de melhor ator, nos festivais de Brasília, Cuiabá e Fortaleza.

Para garantir veracidade à trama, o diretor optou por cenários reais e atores da região. A experiência com documentários ficou evidente no seu primeiro longa de ficção. "Quando eu estava fazendo Querô, muitas vezes, me senti como um documentarista correndo atrás dos fatos", diz o diretor, que vê uma linha tênue entre as duas linguagens.

O processo de seleção incluiu entrevistas e oficinas-testes. Dos 1.200 candidatos, 40 foram selecionados para fazer parte do elenco. A maioria não tinha experiência como ator. No longa, eles puderam contracenar com veteranos como Maria Luisa Mendonça e Ângela Leal. Cortez garante que a pouca experiência não atrapalhou as gravações. "Os meninos não leram o roteiro. Trabalhamos com a improvisação e recriamos os diálogos e as situações, sem perder o universo elaborado por Plínio", explica o cineasta.

Mesmo depois do lançamento do filme, o trabalho das Oficinas Querô continua dando resultados positivos. Muitos dos atores participam do trabalho educativo promovido, com apoio do Unicef, nas comunidades em que ocorreram as gravações. Um deles é Nildo Ferreira, que, após ter interpretado Mosca, um dos adolescentes do filme, diz que sua vida não é mais a mesma: "Antes, eu não tinha perspectivas."

 

Edição 191