"Fotografar o que era proibido me instigava". Assim começou a palestra de Custódio Coimbra, fotógrafo da Editoria Rio do jornal O Globo, na terça-feira, 23, no Auditório Padre Jose Anchieta. Custódio iniciou sua carreira de mais de 30 anos de fotografia em jornais alternativos, como Pasquim, Bondinho, Ex e O Repórter, no auge da ditadura militar, quando fotografar manifestações, monumentos e a Central do Brasil era proibido. Antes de entrar no jornal O Globo, em 1989, o repórter fotográfico já havia trabalhado na Última Hora (82-84) e no Jornal do Brasil (84-89). Custódio cobriu acontecimentos importantes no cenário político.
– Na época em que entrei no Jornal do Brasil, a imprensa foi "imprensada" pela ditadura, peguei a fase da busca pelas liberdades democráticas e participei, nos pilotis da PUC, do ressurgimento do movimento estudantil, contou o fotógrafo.
O interesse de Custódio pela fotografia começou na infância. Aos 11 anos, participava de um clube de fotografia juntamente com seus irmãos, no bairro do Quintino, subúrbio carioca. Ele era assistente do laboratório, preparando a química, e acabou se encantando com o modo como a fotografia era produzida. Três anos depois, herdou o laboratório e a máquina fotográfica, a partir daí não parou mais de fotografar.
Custódio é conhecido por fazer fotos em que há uma associação entre imagens e palavras. Para ele, uma boa fotografia é aquela em que há uma limpeza da imagem, um recorte do acontecimento.
– A composição de elementos faz parte da fotografia, em que um detalhe pode somar a informação, e, às vezes, só a palavra é a fotografia.
da palestra de Custódio
– Por que não usar o flash? Porque é a forma mais real de eu captar o que eu estou vendo, o que eu estou vivendo é essa luz, essas sombras, essas situações que eu posso melhorar ou não.
Sobre a construção de uma realidade por meio da fotografia, Custódio ressaltou que todo trabalho é autoral, é a visão de uma pessoa em cima de uma realidade que se apresenta.
– No jornal, o que importa é a informação. Na fotografia não precisa ter texto, às vezes, uma mistura de elementos passa a ter segundas e terceiras intenções. Quando eu bato a foto tenho o meu ponto de vista, a pessoa que está vendo tem o dela, cada um vai ver a foto de uma forma, é o que enriquece a fotografia.
O papel de uma boa foto, para Custódio, é procurar a beleza em qualquer situação, seja na dor ou na alegria, o registro tem que ser feito no momento do acontecimento e agradar ao olhar para passar o sentimento embutido nela.
No início de sua carreira, o fotógrafo tinha o homem como foco. Com o tempo percebeu que o ambiente em que está inserido é tão importante quanto o próprio homem.
– A natureza dá essa energia, esse momento mágico, são fotos que se tirar uma agora e outra cinco minutos depois, no mesmo lugar, vão ser totalmente diferentes, nenhuma foto é igual à outra. Porém, no jornal tem que ter o ser humano, sem ele, a foto não é muito bem aceita. Usa-se o ser humano para compor a paisagem e dar referência de observação, de que esse lugar é habitado. Mas há muitas fotos bonitas que não têm o ser humano.
O respeito pelo ser humano é o critério básico para uma boa fotografia e foi o grande aprendizado na profissão de Custódio.
– Eu aprendi a chegar nas pessoas: se ela estiver sentada, sentar também, se ela estiver deitada, me abaixar também, ou seja, esse respeito vem justamente por eu estar com pessoas diferentes em todos lugares.
Edição 193