Em 1949, foi fundada pelo produtor italiano Franco Zampari e pelo industrial Ciccilo Matarazzo a Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Instalada em São Bernardo do Campo, ela representou uma das mais ambiciosas tentativas brasileiras de produzir cinema em moldes industriais. A empresa, que durante seus quatro anos de atuação contínua realizou 22 longas-metragens, foi a mais importante do ramo na década de 50. Devido a sua grande importância no cinema nacional, ela foi a homenageada do mês de outubro pelo CinePUC Brasil.
A Vera Cruz surgiu em um momento muito propício. Na época, existia uma intensa atividade cultural em São Paulo, o que despertou o interesse da burguesia. Em pouco tempo, a cidade passou a abrigar dois museus de arte, uma gigantesca casa de espetáculos, uma companhia teatral de alto nível, escolas de arte, concertos, exposições e revistas voltadas para a área. O contexto histórico também teve grande influência na expectativa depositada na nova companhia cinematográfica. Com o fim da II Guerra Mundial, a produção de filmes deixou de ser privilégio de um pequeno grupo de países.
A infra-estrutura da Companhia Vera Cruz foi pioneira no cinema brasileiro. Os três estúdios pilotos da empresa, que têm área de 1.800 metros quadrados, eram inteiramente sonorizados. Segundo o professor de cinema da PUC-Rio Miguel Pereira, a empresa possibilitou grandes saltos de qualidade na parte técnica e artística.
– As obras da Vera Cruz têm um acabamento que não era comum aos filmes brasileiros daquele período. A empresa representou para o país uma enorme melhoria prática na fotografia, direção de arte, montagem, cenografia e som. Além disso, foram trazidos para o Brasil muitos técnicos de diversas áreas da produção cinematográfica. Existia uma preocupação muito grande de se fazer cinema nacional com padrões hollywoodianos, afirma o professor.
Diversos filmes da Vera Cruz fizeram sucesso no país e no exterior devido às grandes quantias investidas em suas produções. O Cangaceiro, que foi exibido no CinePUC Brasil no dia 22 de outubro, é considerado uma das melhores obras produzidas pela Vera Cruz. O longa-metragem, premiado em Cannes, foi o primeiro filme brasileiro a ganhar as telas de todo mundo. Também exibido pelo CinePUC Brasil, Sai da frente marcou a estréia de Mazzaropi, um dos maiores ícones da comédia cinematográfica nacional.
O alto custo das produções obrigou a empresa a adquirir cada vez mais empréstimos. Além disso, a companhia encontrava dificuldades para colocar seus filmes em cartaz no exterior, frente ao desinteresse das distribuidoras norte-americanos em patrocinar o cinema brasileiro. Surpreendendo a todos, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz encerrou suas atividades em novembro de 1953. O professor Miguel Pereira destacou os erros de gerenciamento como um fator que influenciou no fechamento da empresa.
– A Vera Cruz foi mal gerenciada. Gastou-se muito na produção e o retorno não veio na mesma medida. Muitas vezes eram investidas enormes quantias, que demoravam bastante para retornar aos cofres da empresa. Foi feito um investimento alto na parte de produção, mas em matéria de distribuição no mercado as coisas não foram bem. Temos como exemplo O Cangaceiro, um dos maiores sucessos de bilheteria de toda a história do cinema brasileiro, tanto aqui quanto no exterior, e, no entanto, esse sucesso não reverteu em benefícios financeiros para a Vera Cruz.
Atualmente, existe um projeto de recuperação de seus antigos estúdios. O projeto Nova Vera Cruz mantém a essência da empresa que existiu na metade do último século: fazer cinema em escala mundial. Pretende-se reunir todo o acervo de filmes da companhia, além de fotos, roteiros e cartazes. Também faz parte dos planos a construção de uma escola destinada à formação e aperfeiçoamento de profissionais do cinema e da televisão.
Edição 193