As ONGs enfrentam muitos problemas além do aspecto financeiro de que sempre se queixam, porque seu gerenciamento é problemático. Uma das maiores ONGs do país, o Afroreggae é, atualmente, um modelo de gestão. Anderson Sá, vocalista da banda, esteve na PUC no dia 26 de setembro para um debate sobre Favela Rising, documentário que é uma narrativa sobre o seu projeto social..
O filme é a história de Anderson, mais um jovem pobre e desacreditado que quase entrou para a criminalidade. O protagonista é mostrado como uma pessoa que conseguiu dar a volta por cima, que se tornou cantor da banda Afroreggae e um dos principais porta-vozes da instituição. Já a favela é retratada como um lugar de criatividade e resistência.
A idéia para o documentário surgiu após uma palestra em que estavam presentes os diretores Jeff Zimbalist e Matt Mochary, que inicialmente iriam fazer um filme mostrando as belezas do Rio de Janeiro. Segundo Anderson, Favela Rising surgiu de forma espontânea.
- Eu estava dando uma palestra sobre o Afroreggae, em um hotel, em Copacabana, e os dois diretores americanos do documentário estavam lá assistindo. Já existia uma idéia sobre um filme, mas a princípio não seria o que é. Eles foram conhecer nosso trabalho e começaram a freqüentar nosso projeto. O filme deles virou a história do Afroreggae, pegando a minha vida como foco.
O documentário fala também sobre o papel de instituições como o Afroreggae, uma alternativa para os jovens que querem deixar o tráfico e seguir uma vida longe do crime. Anderson apontou para as dificuldades que essas ONGs enfrentam.
- Existem ONGs maravilhosas que estão precisando de apoio, e isto o governo e os empresários poderiam dar. O difícil, hoje, para algumas delas, é a parte burocrática, é a gestão e o financiamento de projetos. As pessoas fazem muitas boas ações, mas, na hora de sentar no computador e verificar as planilhas de pagamento, tudo fica muito complicado.
Segundo Anderson, as ONGs não costumam enfrentar problemas com o tráfico de drogas, afinal, o papel dessas instituições é dar alternativas para a população das comunidades. Nem o fato de tirar uma pequena parcela de sua mão-de-obra incomoda o tráfico, pois, como o próprio vocalista afirma, "para cada um que a gente tira do crime, aparecem mais cinco para o lugar".
- Atingindo o Afroreggae eles vão atingir a comunidade e os familiares deles. Alguns até vêem nosso trabalho com desconfiança, mas a maioria não. A maioria quer que seu filho siga um caminho diferente, que não entre para o trafico, acentuou Anderson.
Atualmente, o Afroreggae desenvolve projetos em quatro comunidades: Vigário Geral, Cantagalo, Complexo do Alemão e Parada de Lucas. O foco dos trabalhos é levar cultura e arte para esses lugares. "Falta um elemento chave no país, que é a oportunidade, que é a qualidade de educação. Se você dá um ensino ruim para alguém, ele não vai ser médico nunca", assinalou Anderson.
Jornal 192