brasileira a fazer implante de células-tronco
Pentear os cabelos, se maquiar e ficar de pé são detalhes que passam despercebidos para a maioria das jovens. Mas para Camila Lima, aluna do 7° período de Ciências Sociais, conseguir executar estes pequenos gestos são conquistas que tornam cada vez mais próxima a realização de um sonho maior: voltar a andar. Em busca do objetivo, Camila enfrentou as dificuldades e se tornou a primeira brasileira a fazer um implante de células-tronco olfativas, técnica pioneira no mundo.
A estudante, de 21 anos, que ficou tetraplégica aos 12, após ser atingida por uma bala perdida quando saía da escola em Vila Isabel, conseguiu fazer a cirurgia em setembro do ano passado, no Hospital Egas de Moniz, em Lisboa, Portugal. Sem condições de pagar os 35 mil euros cobrados, Camila contou com o apoio de um empresário português que, através do site www.camila. lima.nom.br, se dispôs a emprestar a quantia aos pais da estudante.
Para a memória da medula voltar ao córtex e a cirurgia apresentar resultados mais evidentes, Camila precisa fazer um tratamento intensivo no Centro Giusti, em Florença, Itália. Segundo Anna Lucia Lima, mãe da estudante, o ideal seria que Camila tivesse sido acompanhada por médicos especializados logo após a cirurgia, num período de três meses. Entretanto, com a falta de recursos, a estudante só conseguiu o necessário para se tratar apenas durante o mês de junho do ano que vem.
Desde o acidente, ocorrido em 1998, Camila já apresentou melhoras significativas em seu quadro. De acordo com a previsão inicial dos médicos, a jovem não teria movimentos do pescoço para baixo. Mas Anna Lucia conta que ignorou o diagnóstico pessimista e luta até hoje para dar uma melhor qualidade de vida para a filha.
– Se eu não acreditasse que minha filha pudesse voltar a andar, ela estaria amarrada em cima de uma cama, porque os médicos me diziam: "Mãe, não se iluda, ela não vai mexer nada, vai ter que ficar amarrada porque não vai ter equilíbrio", lembra.
A bala que atingiu a medula de Camila pode ter paralisado o corpo, mas não tirou sua vontade de viver. Além de enfrentar uma rotina diária de exercícios, ela namora, estuda e faz estágio no setor de Recursos Humanos da Petrobras. Como resultado da cirurgia e do tratamento feito ao longo destes nove anos, Camila já consegue mover os braços, tem mais equilíbrio no tronco, ganhou mais sensibilidade e consegue dar alguns passos com a ajuda de aparelhos.
– No início, a gente fica triste e deprimido porque muda o corpo e a rotina da família. Mas não dá para ficar chorando em casa. Não posso ficar parada. Tenho que continuar minha vida, destaca a jovem.
médico alemão Lothar Teuber
(Foto: arquivo pessoal)
– Antes da cirurgia entramos com um recurso, mas o juiz falou que não tinha pressa. A legislação é muito cruel com a vítima. As autoridades não podem imaginar o que é ficar confinado dentro de um corpo, ainda mais com 12 anos, critica Anna Lucia.
A aposentada, de 59 anos, não mede esforços para cuidar da filha. Como Camila mesma diz, ela é "mãe, motorista, psicóloga e acompanhante". A determinação de Anna Lucia não só contribui para as melhoras da jovem. Há alguns anos, ela escreveu um manual de cuidados para deficientes, que, atualmente, é distribuído na ABBR.
– Camila é uma prova viva de que há recuperação. Espero que Deus me dê força, porque enquanto eu estiver respirando vou lutar para dar o melhor para minha filha, emociona-se Anna Lucia.
Jornal 192