Caminhos de Camila
15/10/2007 14:00
Fabiana Paiva / Foto: Weiler Filho

Camila Lima, aluna do 7° período de Ciências Sociais, vibra com a conquista de cada gesto. O que passa despercebido para a maioria das jovens, para a estudante significa que o sonho de voltar a andar está cada vez mais perto. Depois de ficar tetraplégica aos 12 anos, ao ser atingida por uma bala perdida na saída da escola, em Vila Isabel, Camila enfrentou as dificuldades e tornou-se a primeira brasileira a fazer um implante com células-tronco olfativas. Contrariando o diagnóstico pessimista dos médicos, Camila já consegue mover os braços e dar alguns passos com o auxílio de aparelhos. Mas, para obter resultados mais significativos, a estudante diz que precisa fazer um tratamento intensivo num centro especializado em Florença, Itália. Sem ajuda do Estado, ela conta só com o apoio da sociedade.

Aluna de Ciência Sociais, Camila foi a primeira
brasileira a fazer implante de células-tronco

Pentear os cabelos, se maquiar e ficar de pé são detalhes que passam despercebidos para a maioria das jovens. Mas para Camila Lima, aluna do 7° período de Ciências Sociais, conseguir executar estes pequenos gestos são conquistas que tornam cada vez mais próxima a realização de um sonho maior: voltar a andar. Em busca do objetivo, Camila enfrentou as dificuldades e se tornou a primeira brasileira a fazer um implante de células-tronco olfativas, técnica pioneira no mundo.

A estudante, de 21 anos, que ficou tetraplégica aos 12, após ser atingida por uma bala perdida quando saía da escola em Vila Isabel, conseguiu fazer a cirurgia em setembro do ano passado, no Hospital Egas de Moniz, em Lisboa, Portugal. Sem condições de pagar os 35 mil euros cobrados, Camila contou com o apoio de um empresário português que, através do site www.camila. lima.nom.br, se dispôs a emprestar a quantia aos pais da estudante.

Para a memória da medula voltar ao córtex e a cirurgia apresentar resultados mais evidentes, Camila precisa fazer um tratamento intensivo no Centro Giusti, em Florença, Itália. Segundo Anna Lucia Lima, mãe da estudante, o ideal seria que Camila tivesse sido acompanhada por médicos especializados logo após a cirurgia, num período de três meses. Entretanto, com a falta de recursos, a estudante só conseguiu o necessário para se tratar apenas durante o mês de junho do ano que vem.

Desde o acidente, ocorrido em 1998, Camila já apresentou melhoras significativas em seu quadro. De acordo com a previsão inicial dos médicos, a jovem não teria movimentos do pescoço para baixo. Mas Anna Lucia conta que ignorou o diagnóstico pessimista e luta até hoje para dar uma melhor qualidade de vida para a filha.

– Se eu não acreditasse que minha filha pudesse voltar a andar, ela estaria amarrada em cima de uma cama, porque os médicos me diziam: "Mãe, não se iluda, ela não vai mexer nada, vai ter que ficar amarrada porque não vai ter equilíbrio", lembra.

A bala que atingiu a medula de Camila pode ter paralisado o corpo, mas não tirou sua vontade de viver. Além de enfrentar uma rotina diária de exercícios, ela namora, estuda e faz estágio no setor de Recursos Humanos da Petrobras. Como resultado da cirurgia e do tratamento feito ao longo destes nove anos, Camila já consegue mover os braços, tem mais equilíbrio no tronco, ganhou mais sensibilidade e consegue dar alguns passos com a ajuda de aparelhos.

– No início, a gente fica triste e deprimido porque muda o corpo e a rotina da família. Mas não dá para ficar chorando em casa. Não posso ficar parada. Tenho que continuar minha vida, destaca a jovem.

Camila fica de pé com a ajuda do
médico alemão Lothar Teuber
(Foto: arquivo pessoal)
Mesmo com tantos avanços, Anna Lucia conta que os resultados poderiam ser mais expressivos se Camila tivesse ajuda financeira do Estado. Ela e o marido, ambos aposentados, gastam cerca de R$ 3 mil por mês para suprir as necessidades da filha e não recebem nenhuma ajuda do poder público.

– Antes da cirurgia entramos com um recurso, mas o juiz falou que não tinha pressa. A legislação é muito cruel com a vítima. As autoridades não podem imaginar o que é ficar confinado dentro de um corpo, ainda mais com 12 anos, critica Anna Lucia.

A aposentada, de 59 anos, não mede esforços para cuidar da filha. Como Camila mesma diz, ela é "mãe, motorista, psicóloga e acompanhante". A determinação de Anna Lucia não só contribui para as melhoras da jovem. Há alguns anos, ela escreveu um manual de cuidados para deficientes, que, atualmente, é distribuído na ABBR.

– Camila é uma prova viva de que há recuperação. Espero que Deus me dê força, porque enquanto eu estiver respirando vou lutar para dar o melhor para minha filha, emociona-se Anna Lucia.

 

Jornal 192