atingem faixas etárias diferentes
Os dez anos de estudos sobre os distúrbios relacionados à estética corporal levaram Joana de Vilhena Novaes, doutora do Departamento de Psicologia da PUC-Rio, a desenvolver o Núcleo de Doenças da Beleza, que faz parte do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social (LIPIS), da Universidade. Com o trabalho, a pesquisadora ganhou o Prêmio Saúde 2007, conferido pela Editora Abril, na categoria saúde mental e emocional.
– Todos os trabalhos que concorreram e ganharam, assim como o meu, tinham que ter cunho social, atividades de extensão oferecidas à comunidade, e deveriam estar, de alguma maneira, vinculados a alguma instituição de ensino, lembra Joana.
O projeto, que fica no espaço da Vice-Reitoria Comunitária, conta com uma equipe multidisciplinar: uma psiquiatra, uma nutricionista e dois cirurgiões, um deles especializado em cirurgia bariátrica (redução de estômago), auxiliam a psicóloga no tratamento dos pacientes. Os casos mais freqüentes, segundo Joana, são os de obesidade, nas classes mais baixas; e os de vigorexia (ato compulsivo de malhar), nas classes mais altas.
– Quanto mais você vai descendo na escala social, menos são os recursos que essas pessoas têm para se beneficiar de todos os diets, lights, spas, academias, remédios, e por aí afora.
A psicóloga relata que o motivo do descontentamento dos pacientes não está restrito ao âmbito alimentar. Segundo a especialista, a passarela que se tornou o mundo contemporâneo leva os indivíduos a lançar mão de práticas nada saudáveis de emagrecimento. Ela ressalta, ainda, que os males da beleza abarcam mais casos do que os contabilizados em transtornos alimentares
– A insatisfação do indivíduo com a própria imagem faz com que ele tenha uma idéia distorcida de si próprio. Por exemplo, uma menina que acha que está três quilos acima do peso acredita que isso a impede de sair, namorar, ir à praia, analisa a pesquisadora.
Anorexia e bulimia, problemas mais conhecidos no âmbito dos transtornos alimentares, atingem faixas etárias diferentes. No caso da bulimia, a propensão é afetar mulheres em torno dos 30 ou 40 anos, com autonomia financeira. Já em relação à anorexia, há um número grande de adolescentes que são encaminhadas ao tratamento pela família, quando já têm configurado um quadro clínico bastante avançado.
– No caso das anoréxicas, o trabalho preventivo que a gente faz é justamente ajudar a família a identificar que há alguma coisa de errado. É importante lembrar que, como se trata de compulsão, não é fácil fazer a adolescente enxergar seu problema. O caso bordeja a psicose quando há um comprometimento clínico da paciente, que fica hospitalizada à base de alimentação intravenosa, lembra Joana.
O mercado e a mídia são variáveis importantes para estimular mudanças de comportamento. Divas da década de 50, como Marilyn Monroe, que vestia manequim 46, se sentiriam deslocadas em pleno século XXI, no qual o modelo de beleza está adaptado aos moldes da magérrima top inglesa Kate Moss
– Você é estimulado o tempo todo por imagens de comida e é também massificado por corpos magros. O indivíduo tem que desenvolver um mecanismo interno de disciplina e privação para não ceder. Isso vai variar de acordo com a capacidade de cada pessoa: uns têm uma disposição interna mais disciplinada e outros menos, uns têm recursos e outros não. Hoje em dia, há uma mídia que vai massificando o olhar com belas figuras, todas photoshopadas. Você vai se acostumando a rejeitar a imperfeição, diz Joana, que desenvolve um trabalho de capacitação de agentes de saúde nos CAPs (Centros de Atenção Psicosocial), da Secretaria de Saúde do Estado, para ensiná-los a trabalhar com a questão dos transtornos da alimentação nas camadas populares.
Edição 194